Vera estava sentada na varanda, esticando as pernas cansadas. No jardim, ela tinha trabalhado duro naquele dia — arrancou as ervas daninhas, regou as mudas, amarrou os tomates. Agora, um cansaço agradável se espalhava pelo corpo, como o quente sol de verão na pele.
Seus cabelos castanhos haviam saído parcialmente do lenço, e suas bochechas estavam rosadas pelo ar fresco. Ela fechou os olhos, inalando o aroma da terra e da erva, e apreciava o silêncio.
— Vera! — ouviu uma voz conhecida.
Ela abriu um olho devagar. Na portinha estava Nadejda — a carteira que todos na vila conheciam.
Vera levantou-se lentamente — suas pernas doíam depois do trabalho. Ela se aproximou da cerca.
— O que foi, Nadejda? Trouxe algo bom?
— Ainda não vou dizer — você vai ficar feliz ou não. Tem uma carta para você. Da capital.
— Da capital? Eu não tenho ninguém lá — Vera se surpreendeu.
— Você vai saber agora. É uma carta registrada. Assine aqui.
Vera se animou, a curiosidade abafou o cansaço. Quem precisaria escrever para ela aqui, no meio do nada?
Ela vivia sozinha. O marido morreu há cinco anos — o câncer não poupou ele. Nunca tiveram filhos. Antes moravam na cidade, mas depois que os pais dela, que também ficaram velhos, faleceram, Vera herdou essa velha casa na vila. Vendeu o apartamento na cidade sem arrependimentos — era aqui, entre flores e silêncio, que se sentia realmente viva.
Olhando para o envelope, Vera não conseguia imaginar quem teria escrito. O sobrenome era desconhecido, e o endereço vinha da capital — a cidade onde ninguém a procurava há muito tempo.
“Provavelmente um engano”, pensou, assinando pelo recebimento da carta, e foi para casa.
— Verunha, de quem é a carta? — gritou Nadejda ao se afastar.
— Ainda não descobri — respondeu Vera, abrindo a porta de entrada.
— Como é bom estar em casa — pensou ela, entrando na cozinha.
— E então, Yasha? Aqui é melhor do que na rua? — falou para seu gato, que estava preguiçosamente esticado no chão.
O gato levantou um pouco a cabeça, cumprimentou a dona e fechou os olhos novamente.
— Nem precisa de ar-condicionado — sorriu Vera, sentando-se à mesa.
Sem hesitar muito, ela cuidadosamente abriu o envelope e retirou a carta. A letra era pequena, quase um rabisco, mas Vera conseguiu ler:
“Olá, Vera. Quem te escreve é Margarita. Nós nos encontramos apenas três vezes. A última foi no funeral do meu primo… seu marido. Naquela ocasião, não conseguimos conversar direito — eu saí cedo. O destino nos reuniu de novo. Não tenho mais a quem recorrer.
Sou deficiente desde a infância, minha perna quase não responde mais. Agora os médicos insistiram na hospitalização. Estou fazendo exames, preparando para uma operação — suspeitam de câncer. Antes eu andava com uma bengala, mas agora só de cadeira de rodas.
Sei que você tem seus próprios problemas, mas mesmo assim decidi escrever. Tenho um apartamento no centro e uma casa de campo. Não quero que tudo isso vá para pessoas estranhas que só esperam se aproveitar da minha incapacidade. Quero deixar para você, se concordar em me acolher. Decidi enviar carta registrada para garantir que chegasse. Pense com calma. Estarei esperando. Melhor se vier.”
Depois vinha o endereço do hospital e o número do quarto.
— Interessante — murmurou Vera.
— Herança? Quando é que vou receber algo? — passou-lhe um pensamento mercantilista.
— Será que ela não tem ninguém mesmo? — perguntou ao gato, que já dormia tranquilo.
— O que vamos fazer?
Yasha pareceu ouvir a pergunta: virou de barriga para baixo e sentou, olhando atentamente para a dona.
— Mas a casa tem que ficar… e você não vai ficar sozinho — suspirou Vera, acariciando o gato.
— Mas, por outro lado… — continuou a pensar. — Talvez eu devesse acolhê-la? Para que o bem não se perca…
Esse pensamento ficou preso na cabeça por um bom tempo. Vera até pensou seriamente.
Ligou o notebook, verificou o horário dos trens. Até a capital, cerca de cinco horas.
A noite inteira e a madrugada Vera ponderou as opções, pesando prós e contras. De manhã, se preparou. Encheu a tigela do gato, colocou comida extra, arrumou uma pequena mala — e foi para a rodoviária.
…
O hospital recebeu Vera com frescor e cheiro de remédios. Ela rapidamente encontrou o quarto e, entrando, viu o rosto pálido da mulher, de braços caídos e olhar apagado. Margarita parecia muito doente e abatida.
— Obrigada por ter vindo — disse Margarita com voz fraca, olhando Vera com um olhar cansado. — Já pensei que ninguém iria me visitar.
— Não contei tudo na carta — continuou. — Acho que, já que você está aqui, vou contar tudo como é.
Ela indicou uma cadeira ao lado da cama.
— Sente-se, Vera. Desculpe não poder oferecer chá. As condições não permitem…
— Imagina, Margarita, descanse — respondeu Vera. — Eu comi no caminho, não preciso de nada.
Margarita reuniu forças e começou:
— Tenho uma conversa importante para você. Há muito queria contar a alguém… É como se estivesse me confessando antes do último dia. Meu coração está pesado. Carreguei isso a vida toda.
Vera escutava atentamente. Sentiu compaixão por aquela mulher frágil deitada ali, que queimava as últimas forças para falar palavras que já queriam sair há muito tempo.
— Nunca consegui me perdoar — sussurrou Margarita. — Ainda sofro com as lembranças.
Pausa. Respiração profunda. Lágrimas brilhavam nos cantos dos olhos, mas ela se conteve.
— Dez anos atrás, quando tinha quarenta, fiquei grávida. Tinha alguém, mas assim que soube da gravidez, desapareceu. E eu… eu fiquei feliz. Finalmente havia alguém para quem viver. Mas a gravidez foi difícil. Por causa do meu estado, a perna piorou muito. Os médicos avisaram: depois do parto, uma operação será necessária. E a carga será grande. Eu quase não via ninguém, não conversava com ninguém. Meus pais já tinham morrido quando eu tinha quinze anos.
Margarita ficou em silêncio novamente. O olhar turvou, a voz tremeu, mas ela se forçou a continuar:
— Os nove meses foram de muita dor. Depois da cesárea, precisei usar muletas. Não conseguia cuidar do bebê fisicamente. Então decidi entregá-lo temporariamente para um orfanato. Foi o conselho dos médicos. Eu visitava o tempo que a saúde permitia. Pegava um táxi, só olhava meu bebê pela janela ou o segurava por uns dez minutos. Tive sorte de encontrar pessoas boas — me deixavam entrar, apesar das regras.
Ela fez uma pausa, os dedos apertavam o cobertor com força.
— Depois da operação, a reabilitação demorou muito. Oh, quantas lágrimas derramei, com quem dividir minha dor? Tudo ficou trancado dentro de mim. Uma enfermeira, comovida pela minha dor, contou que a guarda do bebê foi transferida para outra pessoa. Disseram que eu não conseguiria cuidar — doente e sozinha. Tive que deixar ir. Às vezes eu me aproximava da casa onde ele morava, olhava de longe… E chorava de novo. Essa se tornou minha maior dor. Meu segredo. E agora sinto que meu tempo está acabando. Provavelmente não voltarei para casa. Tenho câncer, estágio quatro. Metástase.
As palavras ficaram no ar. Vera sentiu o coração apertar. Ela ficou sentada, imóvel, tentando não perder nenhum som.
— Você sabe que eu e Sergey não tivemos filhos — disse finalmente Vera. — Melhor você nos dar seu filho. Nós o amaríamos, criaríamos juntos.
— Eu tinha vergonha, Vera — sussurrou Margarita. — Passei a vida inteira envergonhada da minha perna. Me fechei, deixei o medo e os complexos destruírem tudo. Por favor… Quero fazer um testamento para você. E quando meu filho fizer dezoito anos — entregue tudo para ele. Vou escrever uma carta para ele. Você entregará o dinheiro. Que ele estude, que saiba que a mãe o amou até o fim. Agora vou ditar o endereço. Pense em como fazer isso para não traumatizá-lo.
— Não se preocupe, Margarita. Ele vai receber o apartamento. Eu não quero seu dinheiro. E talvez você melhore. Não se enterre antes da hora.
…
No dia seguinte, Margarita escreveu o testamento e a carta para o filho. Insistiu que Vera ficasse com a casa de campo — era sua vontade. Uma semana depois, Margarita faleceu. Silenciosamente, como quem carrega a dor por muito tempo e finalmente encontra a paz.
Vera organizou um funeral digno. O coração estava pesado. Cada vez que lembrava dessa história, lágrimas brotavam em seus olhos. Apesar de tudo, parecia que deveria estar feliz — herança, apartamento, imóvel. Mas, em vez de alegria, só havia dor. Ela vendeu a casa de campo, manteve os inquilinos no apartamento e todo o dinheiro que recebia separava cuidadosamente para o filho de Margarita. Ano após ano, a quantia crescia — suficiente para garantir o futuro do jovem.
…
Desde então, muita coisa permaneceu igual. Vera continuava vivendo na vila, amando aquela casa de todo o coração. Não se casou novamente — decidiu permanecer fiel ao amor de sua vida.
Quando chegou a hora de cumprir a promessa, Vera foi à cidade. Decidiu primeiro conhecer a família onde o filho de Margarita estava crescendo.
Contou tudo a eles. Sobre a vida da mulher, suas escolhas, o testamento. Que o apartamento agora pertencia ao filho dela. As pessoas ficaram surpresas, mas felizes — estavam justamente planejando comprar uma casa nova.
— Vamos contar para ele quando chegar a hora — prometeu a mãe adotiva. — E a carta vai esperar.
Vera entregou o dinheiro. Era suficiente para os estudos e o começo da vida adulta.
Depois, foi ao cemitério. Colocou flores no túmulo de Margarita e ficou em silêncio.
— Cumpri seu pedido — sussurrou. — Descanse em paz. Seu filho vive no amor, cercado de cuidado e carinho. Você pode ficar tranquila.
Ela colocou flores frescas, fez o sinal da cruz no túmulo e foi embora. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu como se uma pedra tivesse sido tirada do coração. Ela partiu com leveza dentro de si — como se tivesse cumprido algo importante não só para os outros, mas para si mesma.