Vera estava sentada na varanda, com as pernas cansadas estendidas.
Ela havia trabalhado duro na horta naquele dia — limpou os canteiros, regou as mudas, amarrou os pés de tomate. Agora, um cansaço agradável se espalhava por seu corpo, como o sol quente de verão na pele.
Seus cabelos castanhos escapavam parcialmente do lenço, e suas bochechas estavam rosadas por causa do ar fresco. Ela fechou os olhos, respirou o aroma da terra e da grama, e se deixou envolver pelo silêncio.
— Vera! — chamou uma voz conhecida.
Ela abriu um olho. No portão estava Nadezhda — a carteira que todos na vila conheciam.
Vera se levantou lentamente — as pernas doíam após o trabalho. Caminhou até a cerca.
— O que foi, Nadya? Trouxe boas notícias?
— Ainda não sei se vai gostar ou não. É uma carta. De Moscou.
— De Moscou? Mas eu não conheço ninguém lá — respondeu Vera, surpresa.
— Você mesma vai descobrir. É registrada. Assine aqui.
Vera se animou; a curiosidade superou o cansaço. Quem poderia escrever para ela ali, naquele fim de mundo?
Ela morava sozinha. O marido havia falecido há cinco anos — o câncer não teve piedade. Nunca tiveram filhos. Antes viviam na cidade, mas depois da morte dos pais, que também adoeceram, Vera herdou essa velha casinha no campo. Vendeu o apartamento na cidade sem arrependimentos — era ali, entre flores e silêncio, que ela se sentia verdadeiramente viva.
Ao olhar o envelope, Vera não conseguia entender quem poderia ter escrito. O sobrenome era estranho e o endereço era de Moscou — uma cidade onde ninguém a procurava há muito tempo.
«Deve ser engano», pensou ela, assinando a carta e entrando em casa.
— Vera, quem mandou a carta? — gritou Nadezhda.
— Ainda não descobri — respondeu Vera, abrindo a porta da frente.
— Como é bom estar em casa — pensou ela, entrando na cozinha.
— E aí, Yasha? Aqui é melhor que lá fora, né? — disse para o gato, que estava esticado no chão, preguiçoso.
O gato levantou um pouco a cabeça, cumprimentou a dona, e voltou a fechar os olhos.
— Nem precisa de ar-condicionado — sorriu Vera, sentando-se à mesa.
Sem pensar muito, abriu cuidadosamente o envelope e tirou a carta. A letra era pequena, quase rabiscada, mas Vera conseguiu ler:
“Olá, Vera. Aqui é a Margarita. Nos vimos apenas três vezes. A última vez foi no funeral do meu primo… seu marido. Naquela ocasião, mal conversamos — fui embora cedo. Mas o destino nos reuniu de novo. E agora não tenho mais ninguém a quem recorrer.
Sou deficiente desde criança, minha perna quase não responde mais. Os médicos insistiram para eu ser hospitalizada. Estão fazendo exames, me preparando para uma cirurgia — suspeitam de câncer. Antes, andava com bengala. Agora, só consigo me mover de cadeira de rodas.
Sei que você já tem suas próprias dificuldades, mas decidi escrever mesmo assim. Tenho um apartamento no centro, uma casa de campo. Não quero que tudo vá parar nas mãos de gente estranha que só espera a oportunidade de se aproveitar da minha fraqueza. Quero deixar tudo para você — se aceitar me acolher. Mandei essa carta registrada para garantir que chegasse. Pense com carinho. Estarei esperando. De preferência, venha.”
Seguia o endereço do hospital e o número do quarto.
— Interessante — murmurou Vera.
— Herança? Mas quando isso realmente vai ser meu? — pensou, com um leve impulso egoísta.
— Será que ela não tem mesmo ninguém? — perguntou ao gato, que já cochilava em paz.
— O que vamos fazer?
Yasha pareceu ouvir a pergunta: virou-se de barriga para baixo e ficou olhando atentamente para a dona.
— Mas vou ter que deixar a casa… e não quero te abandonar, — suspirou Vera, acariciando o gato.
— Por outro lado… — ela continuou, — talvez deva levá-la pra cá? Para que tudo aquilo não se perca…
Essa ideia ficou na cabeça de Vera. Ela começou a levar o assunto a sério.
Ligou o notebook e conferiu os horários dos trens. Cerca de cinco horas até Moscou.
Durante toda a noite, ponderou prós e contras. Pela manhã, tomou sua decisão. Encheu a tigela do gato, deixou comida suficiente, preparou uma pequena mala — e foi até a rodoviária.
O hospital a recebeu com frescor e cheiro de remédio.
Vera encontrou rapidamente o quarto certo e, ao entrar, viu o rosto pálido de uma mulher deitada, com os braços caídos e o olhar apagado. Margarita parecia muito doente e abatida.
— Obrigada por ter vindo — disse Margarita com voz fraca, olhando para Vera com um olhar sofrido. — Achei que ninguém viria me visitar.
— Não contei tudo na carta — continuou. — Mas agora que você veio, posso te contar tudo de verdade.
Ela apontou com os olhos para a cadeira ao lado da cama.
— Senta, Vera. Me desculpa não poder te oferecer um chá. Não dá…
— Imagine, Margarita, descanse — respondeu Vera. — Comi no caminho, estou bem.
Margarita reuniu forças e começou:
— Preciso te contar algo importante. Sempre quis desabafar… como uma confissão antes do fim. Carrego esse peso há muito tempo.
Vera ouviu com atenção. Sentia compaixão por aquela mulher frágil, que gastava suas últimas forças para falar o que guardava há anos.
— Nunca consegui me perdoar — sussurrou Margarita. — Até hoje, essas lembranças me assombram.
Pausa. Um suspiro profundo. Lágrimas brilharam em seus olhos, mas ela as conteve.
— Dez anos atrás, quando eu tinha quarenta, engravidei. Tinha um homem… mas quando soube do bebê, sumiu. E eu… eu fiquei feliz. Finalmente teria alguém por quem viver. Mas a gravidez foi difícil. Por causa do meu estado, minha perna piorou muito. Os médicos disseram: sem cirurgia depois do parto, eu não voltaria a andar. A carga seria enorme. Eu me isolei. Meus pais haviam morrido quando eu tinha quinze anos.
Margarita fez outra pausa. O olhar se perdeu, a voz tremia, mas ela continuou:
— Passei os nove meses com dores fortes. Após a cesárea, fiquei de muletas. Não conseguia cuidar do bebê sozinha. Então decidi deixá-lo temporariamente num orfanato. Foi conselho dos médicos. Eu o visitava quando podia. Pegava táxi, olhava pela janela, às vezes o segurava por dez minutos. Graças a Deus, algumas pessoas boas me deixavam entrar, mesmo contra as regras.
Ela apertava o cobertor com força.
— Depois veio a cirurgia. A reabilitação foi longa. Chorei muito. Não tinha com quem dividir a dor. Uma cuidadora, comovida, contou que deram guarda do menino para outra família. Disseram que eu, doente e sozinha, não tinha condições. Tive que aceitar. Às vezes passava em frente à casa dele, olhava de longe… e chorava de novo. Foi minha maior dor. Meu segredo. Agora sinto que meu tempo está acabando. Tenho câncer. Estágio quatro. Metástases.
As palavras pairaram no ar. Vera sentiu o coração apertar. Sentou-se imóvel, sem perder uma só palavra.
— Você sabia que eu e Sergey não tivemos filhos — disse Vera, finalmente. — Devia ter deixado o menino conosco. Teríamos criado ele com amor.
— Tive vergonha, Vera — sussurrou Margarita. — Sempre tive vergonha da minha perna. Me fechei. Deixei o medo destruir tudo. Te peço… Quero fazer o testamento em seu nome. E quando meu filho completar dezoito anos, entregue tudo a ele. Vou escrever uma carta. Você entrega o dinheiro. Que ele estude. Que saiba que a mãe o amou até o fim. Vou ditar o endereço. Pense como fazer isso da melhor forma, sem machucá-lo.
— Não se preocupe, Margarita — respondeu Vera. — Ele vai receber o que é dele. E eu não preciso do seu dinheiro. E, olha… talvez você ainda melhore. Não se enterre viva.
No dia seguinte, Margarita escreveu o testamento e a carta para o filho.
Ela insistiu que Vera ficasse com a casa de campo — era sua vontade. Uma semana depois, Margarita partiu. Silenciosamente. Como quem carrega a dor por muito tempo e enfim encontra paz.
Vera organizou um enterro digno. Sentia um peso no peito. Sempre que lembrava da história, lágrimas vinham aos olhos. Mesmo com a herança — apartamento, casa — o que sentia era dor. Vendeu a casa de campo, alugou o apartamento e guardava o dinheiro cuidadosamente para o filho de Margarita. Ano após ano, a quantia crescia — suficiente para garantir o futuro do rapaz.
Muita coisa permaneceu igual.
Vera ainda morava na vila e amava aquela casa com todo o coração. Nunca mais se casou — quis manter fidelidade ao seu grande amor.
Quando chegou o momento de cumprir sua promessa, Vera foi à cidade. Quis primeiro conversar com a família que havia criado o menino.
Contou tudo. Sobre Margarita, suas decisões, o testamento. Que agora o apartamento era do filho. A família ficou surpresa, mas feliz — estavam pensando em comprar um novo imóvel.
— Nós contaremos a ele, quando for a hora — prometeu a mãe adotiva. — A carta pode esperar.
Vera entregou o dinheiro. Era suficiente para os estudos e o começo da vida adulta.
Depois, foi ao cemitério. Colocou flores no túmulo de Margarita e ficou em silêncio.
— Cumpri sua vontade — sussurrou. — Ele vive rodeado de amor e cuidado. Pode descansar em paz.
Deixou flores frescas, fez o sinal da cruz e foi embora.
Pela primeira vez em muito tempo, sentia como se um peso tivesse saído de seu coração. Saía com leveza na alma — como quem fez algo importante, não só pelos outros, mas por si mesma também.