Uma garotinha no bar avisou a noiva sobre o noivo e, três meses depois, tudo mudou.

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Quase na porta do restaurante, uma briga quase estourou entre Alisa e Pavel.
Ela sabia que essa conversa teria que acontecer mais cedo ou mais tarde — só não esperava que fosse agora, quando haviam vindo discutir os detalhes do banquete.

Pavel parou o carro e lançou um olhar crítico ao prédio:

— Meu Deus… Isso aqui nem pode ser chamado de restaurante!

Alisa deu de ombros:

— Eu gosto deste lugar. Costumava vir aqui com minhas amigas. Aliás, a dona é maravilhosa e a comida é excelente.

Ele se virou bruscamente para ela:

— Você tá falando sério? Isso é piada? Não viemos aqui só para um lanche! Vai ser o dia do nosso casamento!

— Pasha, primeiro: não precisa levantar a voz comigo — respondeu ela calmamente. — Segundo: não temos condições de pagar por algo mais caro.

Com frustração, ele bateu as mãos no volante:

— E isso vindo da filha de um homem que comanda milhões!

Alisa ficou séria:

— Já conversamos sobre isso várias vezes. Viver às custas dos outros é fácil, mas eu não quero isso. Meu pai te deu um bom cargo, mesmo que você não estivesse preparado. Se quiser, podemos adiar o casamento até podermos pagar pelo que você quer.

Pavel mal conseguiu conter a irritação. Às vezes Alisa era tão teimosa que parecia quase ingênua.

— Tudo bem — suspirou. — Vamos deixar isso de lado e não estragar a noite por besteira. Vamos.

Alisa percebeu — ele havia mudado de assunto de propósito. Decidiu não prolongar o conflito.

O restaurante ficava mesmo nos arredores da cidade. Alisa morava por ali com as amigas e celebrava todos os momentos importantes naquele lugar. Era aconchegante, iluminado, caseiro — e o principal: acessível. A dona sempre as tratava com carinho e dava descontos, brincando: “Para estudantes, como nos velhos tempos”.

Agora o interior era mais moderno, e quem administrava era a filha da antiga dona — um pouco acima do peso, mas tão gentil quanto a mãe. Alisa gostou dela de imediato, então a escolha do local foi natural.

— Alisa, anda logo! — disse Pavel, impaciente.

Mas a jovem viu uma garotinha. Já a tinha notado ali antes — naquela vez, ela tentava limpar os vidros. Estava malvestida, com roupas bem simples. Agora, sentada na entrada, observava os passantes com um olhar pensativo.

— Espera… — Alisa deu um passo em direção à menina, mas mudou de ideia e entrou rapidamente.

Pavel suspirou. Já estava acostumado à impulsividade da noiva. Fazia as coisas sem explicações. Mas depois do casamento, isso ia mudar. Só não agora — era um momento delicado, e o pai dela era bem… particular.

Antes que ele entrasse, Alisa voltou com uma caixa de doces, uma garrafa de refrigerante e algo mais nas mãos.

Passou por ele sem dizer uma palavra. Pavel balançou a cabeça: «Quantos sem-teto ainda vão aparecer até Alisa querer alimentar todos eles?»

Suspirando, foi atrás dela.

— Oi! — disse Alisa com suavidade à menina. — Meu nome é Alisa, e esse é meu noivo, Pavel.

Os olhos cansados da garota brilharam ao ver a comida:

— Obrigada… Me chamo Katya.

Ela comeu um pouco, depois embrulhou cuidadosamente o resto:

— Vou levar pro meu pai. Ele tá doente.

Alisa se atrapalhou um pouco e lhe estendeu algumas notas:

— Toma. Não tenho mais dinheiro agora.

Pavel suspirou teatralmente, esperando que Alisa ouvisse. Mas ela o ignorou.

Katya recusou educadamente:

— Não, não vou aceitar. Não sou pedinte. Tenho casa. Mas muito obrigada pela comida.

Ela se levantou para sair, mas voltou:

— Alisa, você é boa… Mas eu não me casaria com ele. Você não o conhece de verdade.

Pavel explodiu:

— Olha só essa orgulhosinha! Ganhou comida e responde com grosseria. Típico sem-teto que morde a mão de quem ajuda.

Alisa lhe deu uma cotovelada, mas a menina já estava indo embora.

— Alisa, um dia esses pobretões que você protege vão acabar te matando — disse ele.

— E você vai chorar por mim? — respondeu ela, com um sorriso leve.

— Não… Você está fora de si.

Naquela noite, Alisa não conseguia dormir. Pensava nas palavras de Katya. Não acreditava em previsões, mas o aviso a incomodava. Talvez algum parente da menina fosse vidente?

Ela olhou o relógio. Já estava na hora de Pavel dormir. Normalmente ele ligava para desejar boa noite e dizia que também ia descansar.

Ela se levantou rapidamente:

— Não, não é por isso. Só quero dar uma volta.

Saiu de casa em silêncio e, quinze minutos depois, estava na frente do prédio de Pavel. O carro dele não estava lá. As luzes estavam apagadas. Aproximou-se, mas recusou-se a entrar — tinha a chave, mas sabia que ele não estava lá.

Dirigiu sem rumo pela cidade, sem saber exatamente para onde ia. De repente, viu um carro familiar — era o de Pavel. Ele dirigia devagar, ligou a seta e entrou num condomínio.

Alisa estacionou mais longe, saiu do carro e foi atrás.

Pavel não estava sozinho. Com ele, uma mulher — exuberante, atraente. Mal conseguiam chegar ao prédio, pois estavam ocupados se beijando e se abraçando.

Alisa até se beliscou — será que estava sonhando? Afinal, o casamento era dali a duas semanas, tudo já pronto!

Mas não era ilusão. Eles pareciam prestes a deitar no chão…

Assim que entraram no prédio, Alisa voltou ao carro. As mãos tremiam.

“Não dá pra dirigir assim”, pensou. Mesmo com as ruas desertas.

Deu algumas voltas pelo bairro e só então voltou pra casa. Curiosamente, dormiu quase imediatamente.

Pela manhã, o pai já estava na cozinha. Alisa se levantou, ouviu seus passos e saiu do quarto:

— Filha, você acordou cedo hoje… Saiu ontem à noite? Ouvi você voltar tarde.

— Sozinha. Não estava com o Pavel. Pai, preciso falar com você.

O pai ficou sério na hora:

— Entendi. O que aconteceu?

— É… algo importante.

Alisa chegou ao restaurante — estava vazio. Saiu do carro e entrou. Perto do lago, sentada na grama, estava Katya, olhando pensativa para a água.

Alisa sorriu, entrou no restaurante e voltou minutos depois com um saco grande de comida. Sentou-se ao lado da menina em silêncio.

Katya virou-se:

— Você veio sozinha?

— Como pode ver. Quer comer?

A menina suspirou:

— Claro! Tenho idade pra isso… E lá em casa, as coisas não vão nada bem agora.

Alisa começou a tirar a comida da sacola. Katya perguntou:

— Vai comer comigo?

Alisa hesitou um pouco, depois deu de ombros:

— Por que não? Não preciso mais emagrecer pra casamento.

— Sério? — Katya riu. — Você nem pode emagrecer mais — já parece feita de vidro!

Comeram juntas, conversando sobre coisas bobas, até que Katya perguntou:

— Ele foi embora?

— De certa forma, sim. Pra mim, já foi… Talvez ele ainda não saiba.

— Alisa, posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Você… vê coisas mesmo ou era só uma brincadeira?

Katya caiu na risada:

— Ah, claro, eu sou «vidente»! Vi teu noivo beijando outra mulher!

Alisa a olhou, surpresa.

— Por que essa cara? — Katya continuou rindo. — Eu ando pela cidade! O rosto dele é fácil de lembrar. Saíram de um hotel abraçados o tempo todo.

— «Vidente»! — repetiu Katya, gargalhando.

Alisa sentiu os olhos se encherem de lágrimas — de riso ou de tudo que viveu, nem sabia. As duas caíram na grama, rindo como loucas.

À noite, Pavel ligou:

— Alisa, precisamos conversar! Teu pai me encheu de trabalho! Me mandou até pra outra cidade! Pode falar com ele?

— Ué, o trabalho de gerente de suprimentos não é seu?

— Mas eu sou teu noivo!

— Não lembro do papai ter criado esse cargo na fazenda.

— Alisa, não gosto do jeito que está falando comigo!

— Então não liga. Foi você quem me chamou.

Depois de uma pausa, ele perguntou:

— Você está chateada?

— Pelo contrário — estou muito feliz.

— Não entendo…

— Tudo bem. Só saiba que o casamento está cancelado.

Pavel começou a gritar, mas Alisa desligou. Ele ligou de novo. Na terceira tentativa, ela bloqueou o número.

Meia hora depois, alguém bateu à porta.

O pai entrou no quarto:

— Alisa, é o Pavel.

— Diz que eu fui pra Lua.

O pai sorriu. Alisa se levantou — era hora de encerrar tudo de vez.

Pavel estava abatido:

— Alisa, você entendeu tudo errado! Era minha irmã! Posso te apresentar!

Alisa fez uma careta:

— Pasha, não preciso de explicações. Mas se era mesmo tua irmã, vocês se beijam de um jeito bem estranho. Não me liga mais, nem apareça. Acabou. Ah, já cancelei o banquete, inclusive.

Ela ia sair, mas ele segurou seu braço:

— Espera! Você não pode desistir assim! Nem casamos ainda! As pessoas estão esperando! Eu tenho dívidas! Eles vão me matar!

Alisa se soltou. O pai dela falou, firme:

— Vá embora. Ou chamo a segurança.

No dia seguinte, Alisa voltou ao restaurante, mas Katya não estava. Esperou quase uma hora no carro. Nada.

“Devia ter perguntado o endereço ontem”, pensou.

Entrou no restaurante:

— Com licença… e a menina… Katya?

A dona suspirou:

— Ah, estão com problemas. Alguém denunciou à assistência social que ela estava pedindo esmola. Um forasteiro, provavelmente. Vieram hoje cedo. O pai dela está doente desde uma queda. Deram dois dias pra resolverem, senão vão tirar a menina.

— Sabe quem denunciou?

— Dizem que foi Pavel Zagorodny. O mesmo noivo da senhorita?

Mas Alisa já estava correndo para fora.

Ela tinha o endereço, mas só isso não bastava — precisaria da ajuda do pai. Normalmente resolvia tudo sozinha, mas dessa vez era diferente. Andrey Semyonovich nunca negava nada à filha.

Três meses depois

— Katya, pronta? — entrou Alisa alegremente no quarto.

Katya tentou parecer séria, mas correu e abraçou Alisa:

— Acha que o papai vai gostar?

— Claro! Você está indo muito bem: não rói mais as unhas, senta direitinho, come com educação…

Katya suspirou dramaticamente:

— Às vezes é tão difícil ser boazinha!

As duas riram, despreocupadas e sinceras.

— Vamos, Katya! Papai não pode ficar muito tempo em pé.

— Alisa, tem certeza que ele vai andar?

— Absoluta! E até correr — graças ao vovô Andrey!

O pai de Alisa observava e sorria. Via a filha sob uma nova luz — carinhosa, atenciosa, verdadeira. Alisa tinha muitos talentos, mas esse novo — de amor e compaixão — o emocionava mais.

O pai de Katya era um homem bom e honesto, apenas em uma fase difícil. Andrey Semyonovich tinha certeza de que dariam a volta por cima. Alisa já havia provado isso.

Suspirou. Que sorte os caminhos deles terem se cruzado! Não importava o esforço, contatos ou dinheiro — por essas pessoas, ele não economizaria nada.

E foi exatamente três meses após o início de todas as mudanças que eles celebraram o casamento — naquele mesmo restaurante aconchegante, onde tudo havia recomeçado para Alisa.

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