Masha nunca imaginou que o casamento não fosse apenas o começo da vida familiar, mas também, por vezes, o fim da liberdade, da paz e até de seu próprio “eu”. Quando Viktor ajoelhou-se diante dela, estendendo o anel e sussurrando palavras de amor, ela teve certeza: aquele era o momento com que sonhara desde menina. Finalmente, o relacionamento deles saía das sombras de um romance escondido para se tornar oficial. Ela não seria apenas a mulher amada, mas a esposa legal. Companheira. Dona do lar. Mãe dos futuros filhos.
Ela imaginava uma casa cheia de luz, aconchego, cheiro de café pela manhã e risadas infantis. Imaginava como ela e Viktor caminhariam com o filho no parque, como se apoiariam nas dificuldades, como construiriam juntos o futuro. Seu coração palpitava só de pensar que tudo isso agora era real. Verdadeiro.
— Mashenka, você será a noiva mais linda de todas! — dizia Viktor, beijando sua testa. — Quero que o mundo inteiro saiba que tenho uma esposa maravilhosa.
E, de fato, no dia do casamento, Masha sentia-se como se tivesse saído da capa de uma revista. Vestido branco, véu, buquê, sorrisos dos convidados, a marcha nupcial — tudo parecia um conto de fadas. A felicidade parecia estar ali, ao seu lado, esperando para ser tomada pela mão. Mas ninguém a avisou que por trás da máscara do bem-estar podia se esconder algo muito mais sombrio…
Dias antes da cerimônia, aconteceu algo que ela então classificou como apenas uma estranheza do dia, mas que talvez tenha sido o primeiro sinal de alerta.
Voltando do trabalho para casa, Masha ouviu uma voz rouca, quase sussurrada:
— Filhinha, espere! Espere um pouco!
Ao se virar, viu uma cigana idosa, vestida com um longo vestido escuro e um lenço bem apertado ao redor da cabeça. Seu rosto era marcado por rugas profundas, e seus olhos perfuravam, como se enxergassem além do físico — direto na alma.
— Preciso te avisar — sussurrou a velha, agarrando a manga de Masha de repente. — Não confie na sua futura sogra. Atrás daquele sorriso bondoso, há uma alma selvagem. Ela já fez de duas noras vítimas. Você será a terceira, se não tomar cuidado.
As palavras soaram como uma sentença. Masha sentiu um arrepio percorrer-lhe a pele. Que noras? Viktor havia sido casado antes?
— Aqui, pegue isto — a cigana lhe estendeu um pequeno embrulho, amarrado com um fio vermelho. — Abra quando tudo ficar difícil demais. Isso vai te proteger.
Antes que Masha pudesse dizer qualquer coisa, a mulher desapareceu tão repentinamente quanto surgira, deixando apenas um leve cheiro de ervas e uma inquietação estranha em seu peito.
Ela guardou o embrulho na bolsa quase sem pensar. Viktor já a esperava em casa com o jantar pronto e um buquê de rosas brancas. Em seus braços, Masha voltou a sentir-se amada, desejada, necessária. E logo esqueceu o encontro estranho.
O casamento foi deslumbrante. Os convidados beberam champanhe, dançaram até cair, as fotos ficaram lindas, os sorrisos — sinceros. Viktor brilhava. Masha também. Pela primeira vez, ela podia se chamar de esposa dele. Naquele clima de festa, todas as inquietações pareciam tolas e infundadas.
Olga Kirillovna, a sogra, recebeu a nova nora com sorrisos e palavras calorosas:
— Mashenka, querida, seja bem-vinda à nossa família! Como estou feliz que meu Vitia finalmente encontrou sua alma gêmea!
Seu olhar era suave, a voz — afetuosa. Masha relaxou. “Claro, que perigo haveria? Só uma velha supersticiosa falando bobagens”, pensou.
Mas apenas uma semana após o casamento, tudo começou.
Olga Kirillovna tornou-se uma visitante frequente em sua casa. Aparecia todos os dias, sem avisar, indo direto à cozinha ou à sala de estar, como se estivesse em sua própria casa. E então vinham as “lições”:
— Mashenka, o borscht tem que ser feito de outro jeito. Viktor gosta mais azedinho.
— Mashenka, você limpa o chão errado. Olha, assim é que é certo.
— Mashenka, você não passa bem as camisas do seu marido. Ele vai trabalhar, as pessoas olham.
No início, Masha tolerava. Pensava: “Talvez ela só não consiga se desapegar do filho. Talvez sinta ciúmes?” Mas aos poucos, os comentários foram deixando de ser conselhos e tornaram-se deboches. Às vezes tinham veneno. Outras vezes, vinham com a certeza fria de que a dona da casa era ela, não Masha.
Certa vez, Viktor tentou, com jeito, sugerir algo à mãe:
— Mãe, será que você podia vir com menos frequência? Queremos passar um tempo só nós dois.
— Só vocês dois? — repetiu Olga Kirillovna, com um olhar tão frio que Masha instintivamente deu um passo para trás. — Mas eu só quero ajudar, querida. Vocês são jovens, não sabem de muita coisa. Melhor que eu os ensine agora, antes que façam besteira.
A partir de então, as críticas tornaram-se constantes. O ambiente foi se tornando insuportável. Masha sentia que sufocava. E Viktor… ou não via, ou fingia que não via.
Meses se passaram. Um dia, mexendo em um velho armário, Masha encontrou o embrulho da cigana. Seu coração apertou — havia esquecido completamente daquilo. Com mãos trêmulas, desatou o fio vermelho. Dentro havia duas pequenas fotos de mulheres jovens. Sorridentes, vivas, lindas… No verso de uma delas, escrito com caligrafia torta, estava:
«Leia esta oração toda noite antes de dormir, e você viverá feliz no casamento.»
— Meu Deus… — sussurrou Masha, sentindo o sangue gelar. — São… as esposas anteriores?
Mas Viktor havia dito que era seu primeiro casamento…
No dia seguinte, Masha foi tirar a dúvida com um amigo em comum, Dima:
— Dima, é verdade que Viktor nunca foi casado antes?
Dima a olhou surpreso:
— Como assim nunca foi? Ele é viúvo duas vezes! A primeira esposa, Margarita, caiu do banquinho, bateu a cabeça na mesa… Os médicos disseram que foi acidente. A segunda, Lena, morreu dormindo. Disseram que foi o coração. Ele não te contou?
Masha mal conseguiu chegar em casa. A mente confusa, o corpo tremendo. Será que a cigana estava certa? Será que Olga Kirillovna… não era apenas uma sogra difícil?
Naquela noite, Masha leu a oração pela primeira vez. Estava em uma língua antiga, mas as palavras fluíam naturalmente, quase sozinhas. Ela não entendia como, mas as repetia como um encantamento.
E logo percebeu mudanças.
Olga Kirillovna parecia mais fraca, pálida. Sua voz menos cortante, suas críticas — raras. Às vezes, ficava apenas sentada num canto, olhando pela janela, com um olhar triste e inquieto.
— Mãe, você não parece bem hoje — observou Viktor. — Talvez devesse ir ao médico?
— É só dor de cabeça — respondeu ela, mas Masha via o tremor em suas mãos.
Todas as noites, Masha continuava lendo a oração. Sentia-se culpada… mas o medo era maior. E se Olga recuperasse as forças? E se tudo recomeçasse?
Um mês depois, Olga teve uma crise hipertensiva e um ataque cardíaco. Os médicos não entendiam a causa.
— Deve ter sido um estresse muito forte — dizia Viktor, preocupado. — Mas de onde veio esse estresse?
Masha ficou calada. Ela sabia. Mas pela primeira vez em muito tempo, sentia-se em paz em sua própria casa.
Quando Olga voltou do hospital, estava diferente — mais frágil, silenciosa, insegura. Evitava olhar nos olhos da nora. Até que um dia, quando Viktor saiu para o mercado, ela se aproximou de Masha:
— Masha, preciso falar com você — a voz tremia.
— Sobre o quê? — perguntou Masha, desconfiada.
— Eu sei que você lê a oração — sussurrou a sogra. — Nunca acreditei nessas coisas… até sentir em mim. Por favor… não me mate.
Masha congelou. Nos olhos dela não havia mais arrogância — apenas medo.
— Aquela cigana é uma velha amiga minha — continuou Olga. — Estudamos juntas. Eu sou uma bruxa. Ela também. Você passou no teste. Provou que é digna do meu filho. Vivam em paz. Quero ser avó, não a culpada por uma guerra.
Masha a olhou longamente, tentando entender se era verdade… ou mais uma artimanha. Mas os olhos de Olga mostravam apenas cansaço. E talvez arrependimento.
— Está bem — respondeu Masha, por fim. — Mas se começar de novo…
— Não vou — prometeu Olga. — Agora sei com quem estou lidando. Você não é como as outras. É forte. E nenhuma magia pode te vencer.
A partir daquele dia, Masha parou de ler a oração. Escondeu o embrulho numa gaveta secreta — por precaução. Olga realmente mudou. Passava menos tempo com eles, falava baixo, até tentava sorrir.
Um ano depois, nasceu o filho de Masha e Viktor. Pequeno, quentinho, com os olhos do pai e o sorriso dela.
— Que menino lindo! — disse Olga, segurando o neto com cuidado. — Todo parecido com o pai.
Pela primeira vez em muito tempo, Masha sentiu que podia ser feliz. De verdade. Sem medo, sem cobranças, sem pressão.
Mas o embrulho continuava lá, escondido. Caso o passado decidisse voltar.