O ar da manhã em Zavrazhye estava impregnado com o cheiro da terra congelada e da fumaça saindo das chaminés. Pela rua principal, roncando, seguia o “Ural” verde: um guindaste trator carregava sacos de mistura arenosa — no lugar dos antigos barracões, planejavam construir um clube modular. Fedya, o escavador, girou o volante bruscamente e sorriu:
— Mais um pouco e vai ter que pegar a casa da Evdokia com a pá.
Arkadi, o carteiro de bicicleta, assentiu concordando:
— Já está na hora, veja só, as paredes mal estão firmes. Se desabar, ninguém vai querer se responsabilizar.
A casa ficava no fim da rua. Tortuosa, afundada no chão, com um telhado que parecia um chapéu amassado. De longe, parecia abandonada há muito tempo: janelas tortas, cerca caída, quintal cheio de bardana. Mas toda manhã saía uma fina fumacinha da chaminé, e um gato listrado aparecia na porta. Ou seja, alguém morava ali.
Evdokia Semionovna — uma senhora magra de uns setenta e oito anos — quase não conversava com os vizinhos. Ia à loja uma vez por semana: comprava um pacote de macarrão, algumas velas e comida para o gato. Sempre vestida com um velho casaco acolchoado, um lenço da cor da aveia e botas de lã. Falava pouco — só tossia.
O conselho da vila já havia colocado a casa dela na lista de “habitação em risco”. Ofereceram um quarto vago no alojamento do PMK. Evdokia, depois de ouvir, respondeu curta:
— Aqui eu vou morrer.
Não discutiram mais; mas quando começaram a falar da área para o clube, a questão reapareceu: a casa estava justamente no caminho da futura estrada de acesso.
Na segunda-feira, a presidente do conselho, Lídia Ananyevna, bateu à porta da senhora.
— Evdokia Semionovna, viemos com uma proposta — ela cantou e entrou sem esperar convite.
Dentro, cheirava a maçãs secas e lã molhada. No banco, dormia um enorme cão — peludo como um urso, com a cara de um doberman. Ao ver os visitantes, levantou a cabeça, mas não rosnou.
— Meu Deus, que monstro é esse? — sussurrou assustada Lídia.
— Tisha, — disse calmamente a senhora, — é da casa.
O cão baixou a cabeça sobre as patas.
— Então, — começou Lídia — sua casa já está em estado crítico. Está apodrecendo. Gostaríamos de… hum… liberar o terreno. Vai ser dado a você um quarto quente, com água encanada.
— Não vou — respondeu firme Evdokia.
— Mas, desculpe, é perigoso viver nessa ruína.
— Perigoso ou não, é meu.
O rosto da presidente ficou pálido:
— Se recusar, o terreno será considerado para demolição e…
A senhora tirou debaixo do fogão um balde com água, colocou na mesa e deu ao cão.
— Derrubem tudo, menos o fogão. Meu filho construiu o fogão.
A conversa emperrou. Lídia ficou vermelha, bateu a porta e saiu.
No dia seguinte, espalhou-se um boato pela vila: “Logo o trator vai chegar à casa da Duska”. Uns condenavam, outros tinham pena.
Na sexta-feira, o paramédico Sasha foi à casa de Evdokia para medir a pressão. Enquanto colocava a braçadeira, perguntou com cuidado:
— Por que a senhora quer ficar aí? No inverno falta lenha, o telhado vaza.
— Eu não estou sozinha — murmurou a senhora.
O paramédico pensou que era sobre o cão e suspirou.
— Mesmo assim, pense na sua saúde.
Foi embora.
Na terça-feira seguinte, um dia incomumente quente para março, Lídia Ananyevna levantou cedo e ordenou que o operador do guindaste, Fedya, estivesse no local às nove: “Primeiro tentaremos conversar, se não der, começaremos a desmontar”. Eles chegaram.
Já havia uma pequena multidão no portão: a vendedora Zinaida suspirava, o vizinho Arkadi estava ali, o paramédico Sasha, o professor de trabalhos manuais Sergei Palych. Todos observavam Evdokia carregando garrafas vazias no carrinho.
— O que está fazendo? — franziu o cenho a presidente.
— Vendendo — respondeu rouca a senhora.
— Pra que essas garrafas?
— Para material de construção.
Fedya riu alto:
— O que vai construir? Só tem ruínas ao redor.
Mas o riso parou quando o cão apareceu na porta — e não veio sozinho. Dois cães menores saíram atrás dele, depois um gato, uma gata com um filhote, e por último um filhote de grou manca que um motociclista atropelou no verão passado. O passarinho mancava, mas estava cheio de vida.
— Meu Deus… — suspirou Zinaida.
Atrás do grou apareceu um bode com um chifre quebrado, e ao lado pulava uma lebre com as orelhas enfaixadas.
As pessoas ficaram paradas.
Evdokia tirou as luvas e fez um gesto com a mão:
— Esses são meus moradores. Onde eu ia colocar eles?
A presidente abriu a boca, mas não achou palavras.
Todos os animais eram diferentes, mas visivelmente marcados por doenças ou ferimentos. O cão Tisha sentou-se diante de Evdokia, como se a protegesse.
O professor de trabalhos manuais quebrou o silêncio primeiro:
— Foi a senhora que os recolheu todos?
— Quem mais? — corrigiu a senhora o lenço. — As pessoas jogaram fora. A lebre caiu numa armadilha, Tisha foi atropelado na estrada e largado, o grou quase foi salvo dos cachorros.
Lídia tossiu baixo:
— Mas a senhora não é veterinária. Como alimenta todos eles?
— Com o que Deus mandar. — Evdokia apontou para o carrinho com garrafas. — Vendo, compro ração, cereais. Acendo o fogão — tem calor. Eles não têm outro lugar para ir.
O vizinho Arkadi tirou o chapéu em silêncio.
O paramédico Sasha se voltou para a presidente:
— Não podemos demolir a casa se tem animais vivendo aqui. Isso seria cruel.
Fedya coçou a nuca:
— Lida, talvez achemos outro caminho? Tem uma passagem alternativa.
— Outra opção é mais cara — murmurou ela.
Nesse momento, dois alunos do quinto ano correram pela esquina. Ao ver o “zoológico”, ficaram boquiabertos.
— Uau! Uma fazenda inteira! — exclamou um. — Os outros não vão acreditar!
Evdokia cansada sentou-se num tronco.
— Não prendo ninguém à força. Mas se expulsá-los, eles vão morrer.
Sergei Palych, que estava em silêncio o tempo todo, finalmente falou:
— Se cedermos outro terreno, perto do campo, e construirmos um galpão lá…
— Com que dinheiro? — Lídia explodiu.
A vendedora Zinaida enxugou as mãos no avental:
— A loja “Proviant” pode dar os produtos não vendidos — pão do dia anterior, legumes com defeito. Isso já é alguma coisa.
O paramédico acrescentou:
— Posso vaciná-los e examiná-los. Tenho seringas e remédios.
Arkadi levantou a bicicleta:
— Ganhei na loteria, posso comprar as tábuas.
Fedya bateu no para-choque:
— Depois do turno, ajudo a cavar a fundação.
A senhora ergueu os olhos e sorriu pela primeira vez:
— Por que querem isso?
O professor levantou a mão, como na aula:
— Lídia, e se formos um clube infantil “Cantinho Vivo”? A escola pode apadrinhar, construir um novo galpão. Evdokia seria a cuidadora. A terra é municipal e gratuita para educação.
Lídia pensativa mordeu o lábio, calculando os benefícios: o projeto do clube pode ser ajustado, e histórias assim sempre atraem atenção da imprensa.
— No geral… acho que serve — disse ela. — Mas primeiro preciso que o serviço veterinário faça a inspeção.
O cão Tisha latiu baixo, como concordando.
Em uma semana, o quintal virou um verdadeiro canteiro de obras. Os homens erguiam a estrutura, as crianças corriam com tábuas. Lídia cuidava dos documentos, o paramédico tratava os animais. A loja, sob a supervisão de Zinaida, juntava cestas com produtos vencidos.
O chefe do distrito, ao saber do que estava acontecendo, chegou com um fotógrafo:
— Excelente iniciativa! Um projeto social, desenvolvimento sustentável!
Todos se entreolharam com compreensão: claramente havia preparação para as eleições.
Até maio, no lugar do mato, surgiu um galpão aquecido com duas alas: uma para aves, outra para o bode. Um cercado separado para o grou. Na cerca, uma placa: “Abrigo da Duska ‘Quintal Aconchegante’”.
Evdokia Semionovna foi muito convencida a se mudar para a nova casinha próxima: tinha fogão, cama e eletricidade. A senhora resistiu, mas acabou aceitando.
— O importante é que o fogão do seu filho não seja maltratado — brincou Fedya.
— Não será — suspirou ela, acariciando a velha chaminé. — Estou aqui perto, de qualquer forma.
No outono, a escola lançou o clube “Mãos Amigas”. Uma vez por semana, as crianças iam alimentar os animais, aprendiam a cuidar deles: limpar cascos, colocar comedouros. A lebre cresceu, o curativo já havia caído das orelhas; o grou agora podia voar de uma vara para outra.
Evdokia, sentada na porta, tricotava meias para vender. Tisha estava aos seus pés, como protegendo a paz.
Um dia, Arkadi chegou com uma raposa em sua bicicleta: “Encontramos debaixo da ponte”. Mais tarde, o paramédico trouxe uma cegonha com a asa deslocada. O abrigo crescia como páginas de um conto vivo.
Um dia, Lídia parou no meio do quintal, olhou para os animais bem alimentados e as gaiolas organizadas:
— Bem, a casa velha foi demolida, mas a vida continua.
Evdokia ficou em silêncio:
— A casa era uma memória para mim, e isto é um trabalho. A memória fica no coração, o trabalho fica na terra.
Lídia estendeu a mão:
— Sabe de uma coisa? No verão vou organizar um acampamento de voluntários. Para que a ajuda seja constante.
— Seu direito — assentiu a senhora. — Só que não pode ser por uma semana, tem que ser para sempre.
Tisha latiu curto e abanou o rabo em aprovação.
Um ano depois, o jornal do distrito publicou um artigo: “Em Zavrazhye, inaugurado o primeiro abrigo privado ‘Quintal Aconchegante’”. Na foto: Evdokia Semionovna segurando um filhote de gato, crianças ao lado, e ao fundo uma nova placa memorial: “No lugar da casa velha, cresceu a Casa para aqueles que não podem ser abandonados”.
A senhora pediu modestamente:
— Que essa placa não seja só minha, mas de toda a vila.
O jornalista perguntou:
— Qual a maior lição que a senhora tirou dessa história?
Evdokia ajeitou o lenço:
— Nem tudo que é velho deve ser derrubado. Às vezes, sob um telhado podre, esconde-se algo sem o qual as pessoas ficariam pior.
E sorriu. Em seus olhos refletia um telhado novo, onde brincavam raios de sol, e debaixo dele alguém quietinho batia cascos: a vida continuava a todo vapor.