O velho varredor de rua deu seu único casaco a uma menina tremendo de frio, sem pensar nas consequências — até que ela voltou sete anos depois, rica e irreconhecível, com o mesmo casaco e uma surpreendente reviravolta.
Aos sessenta anos, James levava uma vida tranquila, cheia de rotinas repetitivas. Todas as manhãs, antes que a cidade acordasse por completo, ele já estava nas ruas com a vassoura na mão, varrendo os vestígios do dia anterior — bitucas de cigarro, folhas secas, recibos amassados e copos de café largados ao acaso.
À noite, ele fazia o mesmo.
Os donos das lojas por onde ele passava o conheciam, embora poucos o conhecessem de verdade. Para muitos, ele era apenas o velho James, o varredor de rua que trabalhava como um relógio, sua presença tão familiar quanto os próprios prédios.
O padeiro da esquina às vezes lhe dava um pão no fim do dia. O dono do café acenava em sinal de cumprimento. Outros mal o notavam, tratando-o como parte da infraestrutura da cidade — como um poste de luz com uma vassoura.
James não se importava. Pelo menos era o que dizia a si mesmo.
Seu mundo era pequeno. Um quarto só com papel de parede descascando e um radiador que só funcionava quando queria. Sem família, sem visitas, sem animais de estimação. Apenas ele, sua vassoura e o ritmo infinito do trabalho.
Mas então chegou aquele inverno.
O frio chegou cedo, envolvendo a cidade em um abraço gelado. A neve cobria as calçadas, o vento cortava como faca, e até mesmo James, enrolado em seu velho e gasto casaco, sentia o frio penetrar até os ossos.
Foi então que ele a viu.
Ela não devia ter mais que catorze anos: pequena, frágil, com cabelos escuros e embaraçados cobrindo parcialmente o rosto. Andava rápido, abraçando a si mesma, como se tentando se encolher do frio. Mas o que realmente chocou James — o que o fez parar no meio da varrição — foi o que ela vestia.
Apenas um suéter.
Sem casaco. Sem luvas. Sem cachecol.
James franziu a testa e abaixou a vassoura. Aquilo não estava certo.
— Menina! — gritou ele, com a voz áspera de tantos anos em silêncio.
A menina se enrijeceu, mas não se virou de imediato.
James deu alguns passos em sua direção, suas botas rangendo na calçada congelada.
— Por que você está só com esse suéter fino?
Ela finalmente se virou, o olhar desconfiado. De perto, ele viu que seus lábios estavam ligeiramente azulados, e as mãos apertadas em punhos pelo frio.
Ela deu de ombros, evitando o olhar dele.
— É tudo o que eu tenho.
James prendeu a respiração. Algo pesado apertou seu peito.
Sem pensar, ele desabotoou seu casaco, tirou-o e deu um passo à frente para colocá-lo sobre os ombros frágeis dela.
Os olhos da menina se arregalaram.
— Oh, eu não posso…
— Pode sim — interrompeu James com firmeza. — E vai. Está muito frio para ficar sem isso.
Ela hesitou, segurando o casaco com dedos trêmulos. O tecido parecia engolir seu corpo, mas ela não soltou.
Um sorriso tímido apareceu em seu rosto.
— Obrigada, senhor Dumbledore.
James piscou.
— O quê?
Ela riu, ajeitando o casaco.
— Você se parece com o professor Dumbledore do Harry Potter — explicou ela.
James deu uma risadinha, balançando a cabeça.
— É mesmo?
Ela assentiu, agora sorrindo de verdade.
— Só falta a varinha.
James sorriu.
— Varinha eu não tenho, mas fico feliz que meu casaco esteja servindo.
A menina olhou para si mesma, passando as mãos sobre o tecido grosso. Quando levantou o olhar novamente, havia algo diferente em seus olhos — algo mais profundo do que gratidão.
— O senhor é realmente gentil — sussurrou ela.
James deu um gesto com a mão e um sorriso.
— Vá, menina. Vá procurar um lugar mais quente.
Ela hesitou por um momento, depois acenou rapidamente e partiu.
James ficou parado, observando-a sumir na multidão. O vento agora cortava através de seu suéter, fazendo suas articulações doerem, mas ele mal notava.
Ele nunca mais a viu.
Por sete anos.
A cidade mudou nesse tempo. Prédios novos surgiram, os antigos foram substituídos. A padaria onde ele varria virou um café moderno com lattes caros.
As ruas ficaram mais movimentadas, cheias de rostos jovens. Mas James continuava lá, ainda varrendo, ainda seguindo sua rotina silenciosa.
Até que um dia…
Estava varrendo a mesma esquina quando sentiu um leve toque no ombro.
— Professor Dumbledore?
A voz era calorosa, brincalhona. Familiar.
James se virou, ligeiramente confuso.
Diante dele estava uma jovem mulher, alta, elegante, com olhos brilhantes e um leve sorriso.
Nas mãos, ela segurava o velho e desgastado casaco. O seu casaco. Os bolsos estavam cheios de algo volumoso.
James engoliu em seco, o ar lhe faltando.
— Menina? — sussurrou ele.
E assim, o passado voltou como uma onda em sua mente.
James ficou parado, a vassoura pendendo da mão.
A mulher à sua frente — confiante, bem vestida, com o casaco abotoado cuidadosamente sobre uma blusa elegante — segurava o velho casaco em mãos.
Não fazia sentido.
Ela não parecia em nada com a menina trêmula a quem ele dera o casaco anos atrás.
Mas aqueles olhos.
Eram os mesmos. Brilhantes. Agradecidos. Sábios.
— Menina? — Sua voz saiu rouca, quase inaudível.
A mulher sorriu.
— Você ainda me chama assim? — Ela balançou a cabeça com ternura. — Já se passaram sete anos, James.
Ao ouvir seu nome vindo dela, ele ficou atordoado. Como ela se lembrava?
Ela se mexeu levemente, olhando para o casaco antes de encará-lo novamente.
— Eu esperava te encontrar aqui. Você nunca deixou essa rua, não é?
James pigarreou, tentando sair do torpor. Endireitou-se, segurando a vassoura com mais firmeza.
— Nunca tive motivo para sair.
Ela o estudou por um momento, depois sorriu.
— Você tem tempo para um café? Tem um aqui perto.
James hesitou. Não lembrava a última vez que alguém o havia convidado para algo. Sua vida era uma programação fixa — acordar, varrer, comer, dormir. Tomar café com uma estranha, mesmo que ela obviamente o conhecesse, não fazia parte dos planos.
Mas então ele olhou para o casaco em suas mãos.
Seu casaco.
E assentiu.
O café era quente, com cheiro de grãos torrados e doces recém-assados. Era um lugar onde James raramente entrava — chique demais, caro demais.
Ela pediu dois cafés antes que ele pudesse protestar.
— Preto, certo? — perguntou ela, arqueando a sobrancelha.
James piscou.
— Como você…
— Você parece alguém que toma café preto — disse ela, sorrindo.
Sentaram-se junto à janela. O calor do radiador do café se infiltrava em seus ossos congelados, fazendo-o perceber quantos invernos haviam se acumulado dentro de si ao longo dos anos.
Ela colocou o casaco sobre a mesa.
— Eu queria devolver isto.
James balançou a cabeça.
— Eu dei para você.
— Eu sei — disse ela suavemente, passando os dedos pela velha lã gasta. — Mas queria que você soubesse o quanto isso significou.
James se inclinou.