O meu avô deixou-me uma casa podre em Okolitsa, e quando entrei, estava morta.…

Histórias interessantes

A noite, carregada de chuva e silêncio, caía lentamente sobre a cidade. Grandes gotas tamborilavam incansavelmente no vidro das janelas panorâmicas da escola, como se tentassem lembrar algo importante, mas há muito esquecido. No saguão do prédio, onde algumas horas antes reinava a agitação das vozes infantis, instalou-se um profundo silêncio. Apenas o tique-taque monótono do relógio antigo na parede quebrava aquele silêncio, como se contasse não minutos, mas esperanças perdidas.

Nesse espaço silencioso, sozinha, sentava-se uma menina. Ela esperava. Esperava há muito tempo — tempo demais para uma criança a quem prometeram vir exatamente às cinco horas. Já havia dado seis horas há muito tempo, e junto com o último toque do sino no saguão, silenciaram também os últimos passos dos alunos que iam embora. Um a um, os pais se aproximavam sob guarda-chuvas coloridos e brilhantes, recebiam seus filhos em abraços alegres, e eles, rindo, corriam para casa. E ela permanecia sozinha.

Sua mochila estava ao lado, apertada num canto, como um símbolo de desamparo. O guarda-chuva estava dentro — cuidadosamente dobrado, nunca aberto. Afinal, ele não poderia ajudá-la a sair da situação em que as palavras dos adultos perdem peso e as promessas se desfazem como areia entre os dedos.

Enquanto isso, em algum lugar longe do pátio da escola, num pequeno apartamento que cheirava a tabaco barato e álcool, a vida seguia de um jeito bem diferente. A mãe da menina ria, tomava vinho do copo, permitindo-se esquecer de tudo no mundo. Seu vestido escorregava de um ombro, e seus pensamentos estavam ainda mais longe da realidade. Ao lado dela estava um homem cujas palavras estavam cheias de encanto embriagado, e promessas tão vazias quanto as dela. Filha, escola, promessa — tudo isso estava lá fora, fora do campo de visão, fora da atenção.

Só quando o telefone no bolso vibrava de novo, a mulher, semi-vestida e sonolenta, despertou. A voz da atendente, distante e quase irreal, comunicou algo importante, mas em sua cabeça martelava, zunia, como uma orquestra inteira tocando uma marcha dos culpados. A palavra “polícia” cortou sua consciência como uma faca. Ela pulou, esquecendo até de fechar o casaco, correu para fora, onde a chuva a recebeu com um sopro gelado, lavou os restos da loucura noturna, deixando apenas o medo e a consciência de que o tempo havia passado, e a filha… desaparecera.

Na entrada da escola já estava uma viatura da polícia. A sirene piscava em sintonia com a chuva, como o coração da cidade preocupado com o incidente. Aos pés dos degraus, encharcada, estava a mochila. De um dos bolsos saía a ponta de um desenho — colorido, infantil, com um cachorro ingênuo desenhado a lápis. Não era só um desenho. Era um pedaço da sua pequena filha. E então a mulher caiu de joelhos, abraçou a mochila como se isso pudesse substituir um abraço, e uivou, abafando o barulho da chuva e a voz de sua consciência. O policial observava com uma expressão de compaixão e leve desprezo — ele já tinha visto muitos casos assim.

Enquanto isso, a menina caminhava. Sem olhar para trás, sem saber para onde. Apenas para frente. Longe da escola, longe das promessas vazias, longe da mãe que esquecia que o amor exige mais do que palavras. Lágrimas rolavam por suas bochechas, misturando-se com a chuva, escorrendo para baixo, deixando no rosto marcas de amargura e dor. A cidade ao longe brilhava com luzes bonitas e estranhas, atraindo com um calor que ela tanto desejava. Mas à frente havia apenas chuva, escuridão e uma estrada pela qual ninguém se apressava em parar e perguntar — você se perdeu?

Sua jaqueta fina há muito deixou de ser proteção contra o frio. O vento a atravessava, deixando no corpo um arrepio que nenhum cobertor poderia aquecer. Os postes de luz ao longo da calçada lançavam manchas opacas no asfalto molhado, criando sombras estranhas, como se repetissem os contornos do seu medo. Carros passavam rápido, jogando lama, mas ninguém parava. Ninguém perguntava por que a criança estava sozinha, por que chorava, por que caminhava naquele tempo. A cidade era indiferente.

Suas pernas já não sentiam o caminho, mas ela continuava andando. Porque parar significava aceitar o que aconteceu. E ela não queria aceitar. Não queria voltar para onde as promessas não valem nada. Nas mãos, segurava firme aquele desenho — o cachorro bobo que ela um dia desenhou com amor. Era o único elo com aquela casa que um dia pareceu segura.

E então, ao longe, entre a escuridão e o infinito, brilhou uma luz suave. Um café pequenino, quente e acolhedor, como um oásis de humanidade naquele mundo. Sem hesitar, ela se dirigiu até lá, esperando ao menos um pouco de calor, encontrar pelo menos uma gota de compaixão.

A porta tilintou, recebendo-a com calor e aroma de café fresco. O café estava quase vazio, apenas algumas pessoas sentadas nas mesas, absortas em seus pensamentos. Atrás do balcão, um homem idoso com olhos bondosos logo percebeu a criança molhada, encolhida pelo frio e medo.

Ele se aproximou, sem dizer palavra, e perguntou suavemente:

— Você se perdeu, querida? Quer um chá quente?

A menina assentiu em silêncio, incapaz de falar uma palavra. As lágrimas acumuladas durante o dia a sufocavam, mas pela primeira vez em muito tempo ela se sentiu um pouco melhor. O homem a sentou perto do aquecedor, trouxe uma grande caneca de chá aromático com limão e um prato de pãezinhos frescos. Ela atacou a comida como um animal faminto, e a cada gole de calor o peito parecia mais aquecido.

Pouco a pouco, sob o efeito da bondade e atenção, a menina começou a contar. Sobre a briga em casa, sobre como achava que ninguém a amava, que ela não era querida por ninguém. O homem ouviu atentamente, sem interromper, sem julgar. Ele entendia como é difícil ser criança num mundo onde os adultos frequentemente perdem o rumo.

Quando ela terminou, ele disse suavemente:

— Eu entendo, você está muito machucada. Fugir parece uma saída, mas na verdade é só o começo de uma nova dor. Seus pais te amam, só que às vezes não sabem como mostrar isso direito. Talvez você ligue para eles? Tenho certeza que estão preocupados.

Ele estendeu o telefone para ela. Ela olhou demoradamente antes de discar o número conhecido. Do outro lado, a voz da mãe soou — trêmula, cheia de lágrimas. Ela implorava para ela voltar para casa, prometendo mudar. A menina também não conseguiu segurar as lágrimas. Entendeu que estava errada. Que o amor não é perfeito, mas existe. E que talvez valha a pena tentar começar de novo.

O homem do café deu a ela não só calor físico, mas aquele apoio interior que a ajudou a voltar para casa. Ele se tornou para ela um anjo na forma de um estranho que lembrou que ainda existe espaço para bondade e compaixão no mundo.

Visited 92 times, 1 visit(s) today
Rate the article
( 1 оценка, среднее 5 из 5 )