Zinaida Vassílievna, uma mulher com uma vida rica e cheia de experiências, comemorou seu 84º aniversário. Toda a sua longa e difícil existência foi dedicada ao trabalho, à família e à criação dos filhos. Sua trajetória profissional esteve profundamente ligada a uma fábrica — uma empresa onde trabalhou por muitos anos, sobrevivendo não apenas aos tempos soviéticos, mas também às provações do pós-guerra, que deixaram marcas profundas em seu coração. Ela sobreviveu à guerra, quando cada dia podia ser o último, quando era preciso lutar para viver, perder entes queridos, ver horrores e privações. Mas, apesar de tudo, Zinaida Vassílievna manteve sua humanidade, bondade e fé nas pessoas.
Ela teve dois filhos — Leonid e Elizaveta. Eles eram o sentido da sua vida, por quem ela estava disposta a sacrificar tudo. No entanto, o destino decidiu que seu marido, pai das crianças, partiria cedo — aos 52 anos. A causa de sua morte foi uma antiga lesão da juventude que, com o tempo, passou a se manifestar com mais frequência e gravidade. Essa doença não apenas dificultava sua vida, mas também lhe tirava as forças aos poucos, até o dia em que fechou os olhos para sempre. Depois de sua partida, Zinaida ficou sozinha, mas continuou a viver no apartamento que o governo havia lhe concedido como funcionária merecedora. Aquilo não era apenas um teto — era um lar cheio de memórias, da história de sua família, de amor e da dor dos anos vividos.
Com o tempo, porém, a situação começou a mudar. Os filhos, criados graças ao sacrifício da mãe, passaram a tratá-la de maneira diferente. Após a morte do pai, começaram a discutir entre si sobre a “necessidade” de liberar o apartamento para seus próprios interesses. Já não importava quem morava ali; o importante era que aquele espaço lhes fosse útil. Sem nenhum constrangimento diante da mãe, discutiam em voz alta dentro do quarto dela:
— Leonid, você é homem! Deveria conquistar seu próprio apartamento, em vez de esperar pela mamãe. Logo teremos um bebê, e a Rita está namorando — ela também vai precisar de onde morar!
— E por que o teu marido não compra um lugar para vocês? Ou ele é especial? Eu também tenho filhos que precisam de espaço!
Zinaida, embora velha e frágil, ouvia tudo. Mesmo com os olhos quase sempre fechados, fingindo desatenção, seu coração se despedaçava de dor. Doía perceber que seus filhos a viam como um objeto — algo que podia ser usado e depois descartado. Durante todos esses anos, ela se dedicou totalmente a eles: os criou, aprendeu a ser mãe, suportou seus caprichos, os apoiou nos momentos difíceis. Imagens do passado passavam pela sua mente — as primeiras palavras dos pequenos, o primeiro dia de aula, o nascimento dos netos… Ela não podia acreditar que aquelas crianças doces haviam se tornado pessoas tão frias e egoístas.
Muitas vezes insistiram para que ela fosse morar em um asilo, dizendo que seria melhor para todos. Elizaveta falava de forma cruel:
— Mãe, sejamos francas. Está difícil para você viver sozinha. A cuidadora não pode ficar 24 horas. Nós trabalhamos, temos nossas famílias, não podemos ficar indo toda hora.
— Lá vão cuidar de você profissionais. Por que você é tão teimosa?
Zinaida, com a voz trêmula, respondia:
— Liza… Por que ficou tão dura? Você era uma menina tão doce…
— Porque a vida aconteceu comigo, mãe! E temos que sobreviver. Não venha me dar lição de moral. Pergunto pela última vez: vai para lá por vontade própria?
— Não. Este apartamento é meu e do seu pai. Vivi aqui a vida inteira. Aqui também quero morrer.
— Tá bom. Então se vira com a cuidadora.
Leonid também tentou convencê-la:
— Você está perdendo uma chance. Lá parece um resort! Eu mesmo moraria lá.
— Pois então vá. Eu quero morrer onde vivi com seu pai, onde vocês cresceram e onde passei os melhores anos da minha vida. Me deixem em paz, depois façam o que quiserem.
E assim foi. Logo os filhos pararam de pagar os serviços da cuidadora Dasha. Mas, mesmo sem receber, ela não abandonou a idosa. Continuou indo, ajudando, cuidando. Sabia que asilo nenhum substituiria o calor do lar onde alguém viveu toda a vida.
— Dashenka… Você precisa ganhar seu dinheiro, por que continua vindo? Você é jovem, não perca tempo com uma velha.
— Primeiro, essa «velha» ainda dá lição em muito jovem por aí. Segundo, acredito que devemos viver com consciência. Tudo que fazemos volta para nós.
— Isso é verdade, menina… E eu me preocupo com o que vai voltar para meus filhos.
Dasha passava os dias com Zinaida: conversava, cozinhava, limpava, lavava roupa. Escondia que agora trabalhava no turno da noite de um mercado, só para ter alguma renda. Dormia apenas três a quatro horas por dia, descansando um pouco apenas nos fins de semana.
A neta Rita também não demonstrava carinho pela avó. Para ela, era a avó quem atrapalhava sua vida. Dizia ao namorado Vasili:
— Você acredita que egoísmo? Mora sozinha num apartamento em Moscou, enquanto filhos e netos precisam de um lugar decente para morar, viajar, sair… E a gente pagando aluguel!
— Pois é… Sua avó é mesmo egoísta. Ainda bem que a minha mora no interior e não incomoda ninguém.
Certa vez, Liza convenceu Rita e Vasili a visitarem a avó, na esperança de que a convencessem. Chegaram, fizeram chá, e Zinaida contou, radiante, sobre sua juventude, os tempos de faculdade, seus pais, a guerra, o trem hospitalar, os amigos, as perdas… Mas a neta, entediada, interrompeu:
— Vovó, sem ofensa, mas isso foi há muito tempo… E sinceramente, não tem mais graça. Já deu.
As veias da testa de Zinaida saltaram. Ela franziu o cenho e disse firme:
— Saiam.
— O quê? Vovó, que é isso?
— Saíam. E não voltem mais.
Rita e Vasili saíram indignados, e Zinaida chorou:
— Meu Deus, leva-me daqui. Nunca imaginei que receberia tanto ódio na velhice.
Mais tarde, Leonid resolveu agir. Um dia, espreitou a mãe saindo do prédio e acelerou o carro em sua direção para assustá-la. O coração dela não aguentou — desmaiou de medo. As pessoas correram, chamaram a ambulância. Leonid fingiu ser o filho preocupado, levou-a ao hospital, esperando que não sobrevivesse. Mas os médicos fizeram o impossível. Cinco dias em coma. O prognóstico era sombrio.
— Provavelmente, ela não resistirá. Desculpe a franqueza — disse o médico.
— Sim, sim… Que pena. Pobrezinha da mamãe — respondeu Leonid, escondendo a alegria.
Os filhos decidiram não brigar mais. Venderiam o apartamento com os móveis e dividiriam o dinheiro, evitando processos. Foram ao hospital apenas uma vez. Preferiram aguardar o telefonema.
Mas Dasha ia todos os dias. Amava aquela mulher como se fosse sua. Órfã desde pequena, Dasha valorizava cada segundo com quem lhe dava carinho. Lia livros para Zinaida, segurava sua mão, pedia que não desistisse. Mesmo inconsciente, Zinaida parecia sentir cada palavra.
Um mês depois, ela recebeu alta. O coração sofreu danos graves, mas sobreviveu. Os médicos alertaram:
— A senhora precisa de paz. Evite estresse.
No dia da alta, os filhos apareceram com flores e balões:
— Mamãe querida, que alegria vê-la de volta! Estivemos aqui sempre.
— Sempre?
— Claro, todo dia, mamãe.
Na verdade, tinham ido apenas uma vez. Dasha, sentada no banco com um bolo e tulipas, quis surpreender, mas ao vê-los, foi embora em silêncio.
No dia seguinte, foi visitar Zinaida. Ninguém atendeu. Entrou e viu a idosa imóvel. Ao se aproximar, percebeu: ela se foi. Chorando, ligou para a ambulância e para a família. Vinte minutos depois, todos estavam ali.
— Dasha, você está liberada. Obrigado por avisar — disse Leonid friamente, levando-a até a porta.
Uma semana depois, a polícia ligou:
— Zinaida Vassílievna deixou o apartamento para você. A família não gostou. Venha até aqui.
Dasha foi. Liza atacou:
— O que você fez para ela deixar tudo pra você? Enganou? Com a gente isso não vai funcionar!
— Eu não pedi nada.
— Entregue a herança ou vamos te processar!
— Chega! — disse o policial. — Nada de ameaças.
— Posso ir?
— Só se assinar o termo de renúncia à herança — disse Leonid.
— Não vou assinar nada.
— Está no seu direito.
Dasha saiu. Não queria o apartamento para si. Tinha outro plano: vender o imóvel e usar o dinheiro para criar um lar para idosos, onde seriam amados, respeitados e cuidados como família. Queria que pessoas solitárias, como Zinaida Vassílievna, tivessem calor, cuidado e acolhimento nos últimos anos de vida.