Semion deu um passo além do portão, que se fechou com um estrondo bem atrás dele.
— “É isso! Liberdade!” — passou pela sua mente. “Ontem ainda era a prisão, e hoje…”
Ele prometeu a si mesmo: nunca mais colocaria os pés naquele lugar de onde acabara de sair. Ainda mais que ele desejava desesperadamente apenas viver uma vida normal — sem grades, sem guardas, sem contar os dias intermináveis até a próxima visita ou ligação.
Antes de ser preso, Semion não era uma pessoa qualquer — tinha um bom padrão de vida, se mimava e aos amigos, sempre tinha dinheiro. As mulheres literalmente o cercavam. Mas assim que foi preso — todos desapareceram. Nenhuma visita em cinco anos, nenhum pacote recebido. Só paredes e tempo.
Semion se envolvia em fraude — criava anúncios de venda de produtos que na verdade não existiam. Os compradores vinham facilmente: preços atraentes, condições vantajosas. Mas na realidade — nada. O negócio prosperava até que o pressionaram de verdade.
Esse foi seu ponto fraco — a complacência. Afinal, um dia ele viveu honestamente. Na infância estudava com facilidade, os professores até previam um grande futuro para ele. Mas que futuro haveria numa vila? Nenhum.
Após a morte da avó querida, com quem ele cresceu, Semion foi levado para parentes distantes. Eles não eram maus, mas também não demonstravam afeto — cumpriam o dever, nada mais. Ele não conseguiu amá-los e fugiu assim que completou 17 anos. Morou em alojamento, estudou, sonhou…
Nunca negligenciou os estudos, sabia o valor da educação. Só queria resultados mais rápidos. A ideia surgiu sozinha, ele a testou por seis meses, e então decidiu agir. Em dois anos desfrutou do sucesso, e depois — as algemas.
Naquela mesma noite, Semion já estava na cidade, depois no banco. Lá retirou o conteúdo de um cofre anônimo — dinheiro e alguns pertences pessoais. Na rua pensou onde ficar: ir para um hotel com uma declaração provisória era tolice — melhor procurar algo por diária.
Entrou numa loja, comprou um celular simples. Teve um pequeno problema com o chip, mas resolveu. Na rua comprou um jornal com anúncios e se aprofundou na leitura.
Três dias depois, já descansado e um pouco ambientado, Semion começou a buscar uma moradia. Decidiu comprar uma casa na vila, mas com boa conexão — para combinar descanso e acompanhar as novidades da internet. Já tinha comprado um notebook.
Se alguém que o conhecia da prisão o visse agora — jamais reconheceria.
Um dia encontrou um anúncio estranho. Um homem oferecia venda urgente de uma casa com a nota: “Existe um pequeno ônus, por isso o preço está reduzido.”
— “Interessante,” pensou Semion. Checou a cobertura da rede — a vila era adequada, a conexão deveria ser ótima.
Ligou e marcou um encontro. O dono estava atrasado, e Semion já ia embora quando um velho carro “doze” parou perto dele.
— “Olá! Sou Oleg, dono da casa,” disse o homem nervoso.
Semion entrou no carro.
— “Conte, o que há de errado com a casa?”
— “Melhor eu mostrar antes de falar. Pode ser que não goste.”
A casa agradou Semion à primeira vista. O próprio dono despertava outros sentimentos — olhar preocupado, mãos tremendo, sinais de alcoólatra ou jogador.
Semion olhou atentamente para ele:
— “Fale direto. Qual o truque? A casa é boa e o preço é abaixo da média.”
— “É que… minha mãe mora comigo. Muito idosa. Talvez viva mais um ano…”
— “Você está vendendo a casa junto com a mãe?!” Semion não acreditou.
— “Não posso esperar ela morrer! Preciso do dinheiro urgente!”
A princípio Semion quis recusar, mas algo o fez dizer:
— “Tudo bem, vamos lá, quero conhecer sua mãe.”
Por dentro, a casa era mais espaçosa do que parecia. Uma sala grande, duas menores, cozinha. Também tinha varanda e saída para o sótão.
— “Temos um quarto no sótão, bem legal…”
De um dos quartos saiu uma senhora idosa.
— “Olá, filho. Por que não disse que temos visita? Eu teria feito algo para comer.”
— “Sem tempo, mãe, logo vamos embora,” respondeu Oleg e quase empurrou Semion para fora.
— “Vai comprar?” — perguntou o vendedor.
Semion não falou que a mulher lhe lembrava muito sua avó. Também não comentou que pessoas desse tipo já mereciam ser colocadas no lugar delas. Apenas disse curto:
— “Não reclame, não estrague meu humor! Se disse que tem que ser assim, é assim. Oferta boa, não se vê todo dia. Pra que vou te explicar?” — disse Nikolai irritado.
E realmente, ele não queria explicar. Pensava em outra coisa — tinha pressa. A ideia veio da jovem esposa, Svetlana. Ela encontrou um “emprego ótimo”: quase nada a fazer — só ficar em casa clicando botões. Só precisava investir um pouco, prometiam dividendos gigantes! Segundo ela, o dinheiro investido retornaria em dois meses e depois — lucro puro.
Nikolai não ligava para o destino da velha na casa. Propôs enviá-la para um asilo — ela não aceitou. Mas a casa já estava em seu nome, então ele poderia cuidar dos seus negócios.
No dia seguinte, ao receber o dinheiro de Semion, Nikolai transferiu tudo para o cartão e ele e a esposa começaram o cadastro. Tudo ia muito bem! Dois dias depois no painel pessoal apareceu: “Você está indo muito bem! Se depositar mais um pouco, pode sacar amanhã!”
Nikolai balançou a mão e correu para a vizinha buscar o que faltava — vinte mil. Pegou o dinheiro e foi ao caixa eletrônico.
De manhã, ao amanhecer, acordaram ansiosos: curiosos para ver quanto ganharam no primeiro dia! Mas o painel pessoal não abria. Tentaram por meia hora, depois ligaram para o número informado — “Assinante não está disponível.”
Svetlana digitou o nome da empresa no buscador — e ficou chocada. Nas últimas 24 horas, já havia um site com vítimas desse esquema de golpe.
Nikolai quase caiu da cadeira.
— “Que porcaria é essa, Svet? O que está acontecendo?”
— “Nem eu entendo… Só estou lendo…”
Por uns vinte minutos a casa ficou em silêncio total. O casal, horrorizado, lia as avaliações de outros enganados. Kolia sentia os cabelos arrepiarem de medo.
— “Então, Svet, nosso dinheiro… acabou? Sumiu?”
— “Parece que sim…”
— “Como assim?! Você disse que verificou tudo! Que viu dez vezes!”
— “Sou economista? Só sugeri, você que achou que era bom!”
Svetlana recuou devagar para a cozinha. Nikolai levantou, se aproximando dela.
— “E agora como viver? Amanhã tenho que pagar a vizinha! O que vamos fazer?”
— “Você é burro de pegar empréstimo tão curto!”
— “Eu burro?! Eu?!” Nikolai tirou o chinelo e jogou na esposa.
Svetka gritou e jogou seu chinelo de volta. Acertou direto na cabeça dele.
Kolia pegou o segundo chinelo e lançou com força na Svetka — na testa. Ela gritou e correu para a cozinha. O marido já estava quase alcançando, mas Svetlana pegou uma frigideira. Nikolai parou, ela levantou o braço.
— “Não quer trabalhar? Então trabalhe agora! Pena do dinheiro? Se ferrou!”
— “Você é homem ou o quê?!”
— “Pra mim? Você não trabalhou um dia na vida, vive às minhas custas! Eu às suas? Nem pensar! Esqueceu que mora no meu apartamento?!”
— “Casei com você, o que prometeu? Svetochka, eu… — zombou. — E você feliz, idiota! Achava que era homem feito!”
A briga poderia durar a noite toda — geralmente terminava com reconciliação na cama. Mas naquele dia Svetlana teve sorte: Kolia, furioso, cuspiu e saiu para esfriar a cabeça.
Depois se reconciliaram — não era hora de brigas, tinham que pensar em sair das dívidas. Venderam brincos para pagar a vizinha. Nikolai começou a procurar emprego.
Zinaida Egorovna sentia que o filho tramava algo, mas não sabia o quê. Sabia que ele perdia no jogo — frequentemente pedia dinheiro. Uma vez apareceu à noite com amigos, quase teve a cabeça arrancada. Ela deu tudo que tinha: o que juntou para o funeral e para o inverno. De filho não esperava mais nada além de dinheiro. Estava acostumada.
Quando viu Semion, ficou assustada. O rapaz era careca, com olhar penetrante, claramente ex-presidiário. Mas eles saíram rápido e Zinaida não entendeu nada.
Quando Semion voltou com uma mala, a mulher ficou muito preocupada. Mas se controlou, sorriu e ofereceu chá. Na vila sempre foi assim: primeiro come, depois pergunta.
Descobriu que Semion era uma boa pessoa, como seu avô falecido. Quando contou a verdade sobre o filho dela, Zinaida chorou.
— “Ah, Kolia, como pode? Com uma pessoa viva…”
— “Não se preocupe, vou ficar só uma noite para não incomodar,” a mulher apressou-se a tranquilizá-la.
Semion sorriu suavemente:
— “Vocês não vão a lugar nenhum. Compramos a casa juntos — vamos morar juntos.”
Mesmo que Zinaida Egorovna quisesse ir embora, Semion não permitiria. Ela parecia demais com sua avó.
Passaram-se apenas três meses, e a mulher se transformou. Como se rejuvenescida, animada. Semion sabia o motivo — anos de fome, sem remédios e a ganância do filho não passam sem deixar marcas.
Agora a casa tinha geladeira nova, todos os eletrodomésticos foram renovados. Zinaida só piscava com os olhos:
— “Cozinhar numa coisa assim? E não gosta?”
— “Claro que gosto! Nunca vi nada assim antes…”
Semion gostava de mimar aquela mulher. Não teve tempo para a avó própria — que fosse essa, mesmo sem laços de sangue.
E Zinaida Egorovna se esforçava — Semion até esqueceu como era cozinhar ou lavar roupa sozinho. Tudo sempre pronto, roupas limpas, casa brilhando. Ele brincava:
— “Nós, Zinaida Egorovna, somos úteis um para o outro. Vamos viver muito e felizes!”
— “Pra mim já está bom… Dizem que se pode viver até duzentos anos,” ela respondia rindo.
Duas semanas atrás Semion abriu uma pequena empresa de construção. Por enquanto só cinco pessoas na equipe — mas todas confiáveis, experientes. Ele sabia que elas não fariam um trabalho mal feito. E ele mesmo queria fazer tudo honestamente e com qualidade.
Claro que com essa abordagem não iria longe rápido. Mas melhor devagar e firme, para que o nome da empresa fosse conhecido. Quando surgissem mais pedidos, contrataria mais gente.
Curiosamente, na seleção dos funcionários, Zinaida Egorovna se mostrou uma grande conhecedora de personalidades. Um dia Semion a levou para uma entrevista — só por curiosidade. Depois de conversar com os candidatos, a avó comentou:
— “Esse segundo, foi erro pegar. Não trará coisa boa.”
Semion não deu atenção na hora, depois se arrependeu. Esse funcionário não só era preguiçoso, como tentava roubar.
Já moravam com Zinaida Egorovna há quase um ano. Semion cada vez mais olhava para a neta da vizinha — boa moça, gentil, alegre. Só que não se atrevia a se aproximar: ela era tão pura, e ele… com o passado. Achava que ela não entenderia.
Zinaida Egorovna via tudo. Como a moça olhava para Semion, e como ele se esforçava para melhorar. A avó decidiu ajudar, mas ainda pensava numa forma discreta — elaborava um plano.
Um dia Semion piscou para ela e perguntou:
— “Quer vir ao trabalho? Vigiar os candidatos.”
— “De novo médicos? Não, não vou! Você já me leva todo mês, e estou bem assim!”
— “Não médicos, trabalho!” — riu ele.
— “E agora sou funcionária?”
— “Só senta na cadeira e fala: pega esse ou não.”
— “É aquele rapaz ruim?” — ela adivinhou.
— “O pior. Eu o demiti há um mês, e não te contei.”
Semion tinha um escritório alugado — bem decente. Sentou Zinaida Egorovna na cadeira e pôs uma xícara de chá na frente dela:
— “Confortável?”
— “Que gentil! Claro que está. Trabalha, não liga para mim.”
Entrou o primeiro candidato. Semion parou — era Nikolai. Ele também reconheceu Semion, e depois viu a mãe.
Nikolai foi enviado ali por Svetlana — conhecidos diziam que pagavam bem e trabalhavam honestamente.
Zinaida Egorovna levantou. Estava um pouco pálida, mas firme. Semion observava silencioso. A mãe parecia bem diferente — mais gorda, vestida bem, até elegante. Mudou muito desde que vivem juntos.
— “Semion… Posso falar?” — sorriu a mulher.
— “Claro. Pode falar o que quiser.”
Ela se virou para o filho:
— “Não vale a pena contratá-lo. Nunca gostou de trabalhar. É esperto, calculista — vai explorar os outros e não vai render nada.” — Depois dessas palavras, ela sentou e virou a cara para a janela.
Semion olhou para Nikolai e falou firme:
— “Fora daqui!”
Nikolai saiu do escritório como se tivesse levado um choque.
Chegando a Zinaida Egorovna, Semion perguntou:
— “Como está se sentindo?”
— “Bem. Talvez você tenha razão em não tê-lo contratado. Mas quem sabe ele mereça uma segunda chance?”
— “Não. Meu filho é você. E esse homem me traiu e vendeu minha casa.”
Mais seis meses se passaram e Zinaida Egorovna enxugava lágrimas felizes, vendo o casamento alegre de Semion e Masha — a neta da vizinha que ele tanto temia perder.