Svetlana acordou antes do despertador — como sempre. No quarto reinava um penumbra suave: aquela luz fantasmagórica que surge antes do amanhecer, quando a noite já não é soberana, mas o dia ainda não tomou seu lugar. Lá fora, reinava um silêncio profundo, tão denso que parecia que o tempo parara. Ela permaneceu imóvel, ouvindo o ritmo da casa matinal. Da sala ao lado vinha a respiração tranquila e cadenciada das crianças. Roman estava respirando um pouco mais alto que o normal, Irina virou-se no sono — a cama rangeu quase inaudivelmente. Anton, como sempre, era uma ilha silenciosa naquela noite: nenhum som, nenhum movimento. Parecia que ele nem dormia — simplesmente desaparecera.

Com cuidado, quase sem fazer barulho, ela escapou debaixo das cobertas. Os pés tocaram o linóleo frio, mas ela não estremeceu — apenas fechou os olhos por um segundo, como se recebesse aquele golpe matinal da realidade. Esse era seu jeito de começar o dia: sem reclamações, sem movimentos desnecessários, sem pausas. Apenas — começava.
A cozinha cheirava a caldo de ontem e madeira velha. Tudo estava no lugar, como um relógio: panelas no armário, colheres na gaveta, chaleira no fogão. Ela acendeu a luz em cima do exaustor — silenciosamente, sem estalos, para não perturbar a casa. Colocou a chaleira para esquentar. Ela chiou, soltou vapor. Enquanto fervia, Svetlana pegou as panelas, colocou uma no fogo, na outra já cozinhavam macarrões para a noite. Tudo seguia o cronograma — café da manhã e jantar preparados simultaneamente. Assim economizavam tempo. Assim sobreviviam.
Para Anton — ovos mexidos com linguiça. Ele não suportava mingau, especialmente pela manhã. “Só não mingau, mãe!” — dizia todo dia, como se ela pudesse esquecer. Para Roman — mingau de aveia com manteiga, um pouco derretida por cima. Para Irina — panquecas que Svetlana mesma fazia com a massa de ontem, que sobrou do jantar. Ao lado — chaleira com água quente, embrulhada em uma toalha. E uma torta de batata, feita com as sobras do purê e da massa, que ela misturava de memória. Segundo a receita da mãe. Segundo o que lembrava da infância. A avó já não podia fazer isso há muito tempo. Agora fazia Svetlana. Porque ninguém mais podia.
Enquanto o fogão emitia seus sons — chiava, borbulhava, cozinhava — ela deu tempo de lavar a louça, limpar a mesa, separar os sacos de lixo. Os pensamentos deslizavam pela cabeça como contas num fio:
“Roman para o jardim. Anton sozinho, ele já é grande. Irina em casa, com a avó. Se precisar — vai esquentar a sopa. Obrigada a ela. Que menina esperta… Já sabe comer e ajudar. Só não fique completamente calada…”
A garganta apertou. Svetlana desviou o olhar da xícara velha e rachada que por algum motivo não jogara fora. Talvez porque essa rachadura lhe lembrasse que até o velho pode ser necessário. Até o rachado — serve.
Cansada? Sim. Cansada até os ossos, até as raízes do cabelo. Mas pensar nisso não podia. Agora — manhã. E a manhã exige movimento. Não perdoa a lentidão.
Com a panela quente nas mãos, ela foi ver a avó. No quarto só a tela da TV brilhava — tremeluzente, silenciosa, com o som abafado. Parecia que falava sozinha. Na cama estava Valentina Ivanovna — pequena, curvada, toda enrugada pelo tempo. O jornal escorregara sobre o peito, os óculos estavam tortos. A mão repousava cuidadosamente sob a bochecha, como a de uma criança.
— Vovó… — chamou Svetlana baixinho ao entrar.
A velhinha mexeu-se, abriu os olhos devagar, sorriu um pouco.
— Svetik?.. Já é hora?
— Já. O café da manhã vai ser?
— Não agora… depois…
A voz era fraca, cada palavra custava esforço. Svetlana sentou-se ao lado, ajeitou a manta, pousou a mão da avó ao lado do corpo. Os dedos estavam secos, frágeis, com veias azuis visíveis.
“Obrigada por ainda andar um pouco,” pensou, segurando aquelas mãos. — “Ela tem noventa e dois… E até pouco tempo ainda contava histórias para Irina, explicava a tabuada para Roman…”
Agora a avó passava os dias meio dormindo, sentada ou deitada. Levantava-se só para ir ao banheiro. Assistia TV, segurava o jornal, mas não lia. Só segurava. Como se isso a fizesse sentir viva.
Svetlana desligou a TV, ajeitou o travesseiro e voltou para a cozinha.
Enquanto enrolava os pastéis no papel alumínio, os pensamentos voltaram a agitar-se dentro dela. Como se alguém tivesse ligado o rádio na cabeça — só que a interlocutora era ela mesma, porém dez anos mais velha.
“Vou ficar assim… Será que meus filhos estarão por perto? Vão me aguentar?… Irina — sim. Anton… não tenho certeza. E Roman ainda é pequeno demais…”
Ela lembrou que no mês passado comprara remédios novos para a avó. Dez ampolas — e isso era metade da aposentadoria. Além de pomada. Fraldas. Talcos. Comida. Calor. Remédios. Seguro. Exames. E tudo isso com o salário de faxineira.
“Tenho medo… Tenho medo que um dia também comprem algo assim para mim — e fiquem com pena do dinheiro. Ou nem comprem…”
As lágrimas vieram, mas ela as engoliu. Sabia: se começasse a chorar, não pararia. Mas agora — café da manhã. Agora — as crianças.
Anton apareceu na cozinha só de camiseta e meias, bagunçado, mas já consciente e adulto.
— Mãe, você fez ovos mexidos?
— Claro, ainda estão quentinhos. Vai lavar as mãos. Quer o chá forte?
— Sim. Só sem açúcar, como você faz.
Svetlana sorriu. Ele tinha doze anos, mas já falava como homem. Filho mais velho. Seu apoio. Sua pequena rocha.
Meia hora depois, Roman caminhava para a saída, com o gorro puxado até as sobrancelhas. Irina já estava de pé, ajudava-o com o casaco, fechava o zíper.
— Irka, se precisar — liga, tá? Vou até a noite, mas no almoço passo, como sempre.
— Tudo bem, mãe. Vai dar tudo certo. Vou esquentar o almoço para a avó, e estudar com Roman. Temos os cartões das letras.
— Minha boa menina…
Svetlana abraçou a filha. Queria dizer mais, mas não conseguiu. Apenas a apertou forte. Do jeito que se abraça quem se ama mais que a própria vida.
Lá fora, um vento cortante da manhã a recebeu. O céu estava cinza, o sol ainda não se atrevia a sair. E então, de repente, como se encomendado, uma lembrança surgiu.
A voz de Pavel. Fria. Rude.
— Eu não aguento mais, Svet. Chega.
Ela voltou a ver aquela cozinha. Noite. Ela cansada depois do turno. Ele — com uma lata de cerveja, sem olhar nos olhos.
— Você entende, Svet, eu não quero viver assim. Não devo! Eu tenho uma vida só! Não vou trabalhar feito cavalo!
— Mas somos família… filhos… mãe…
— E eu? Passar a vida toda com essa velha no pescoço? Com filhos, com a esposa que está sempre cansada? Com comida de pobre e buracos nas meias?
Ele falava sem olhar para ela. E ela estava parada, sem conseguir responder. Sem uma palavra. A dor batia nas têmporas, mas não havia força. Apenas olhava para ele, e lá no fundo, a última faísca de esperança se apagava.
Ele foi embora. Simplesmente arrumou a mala e saiu. Sem explicações. Sem avisos. Sem despedidas. E então a casa foi tomada pelo mesmo silêncio daquela manhã, quando ela acordou.
“Pashka…” — pensava ela enquanto andava pela rua — “você nem sabe o que é ser homem…”
Ele queria filhos. Escolheu os nomes. Sonhou com a família. E quando nasceram — tornou-se um estranho. Como se suas responsabilidades tivessem acabado nas palavras.
Trabalhava mal. Ganhava pouco. Não queria mudar nada.
— Me basta — dizia ele — Não quero que me façam trabalhar. Isso não é coisa de homem.
E ela puxava tudo. Sozinha. Das compras às clínicas. Das roupas às festas escolares. Ele não foi a nenhuma apresentação matinal. Nem uma. Roman aprendia um poema, segurava um coelhinho de papel, procurava o pai com os olhos.
— O papai vai vir?
Svetlana assentia. Mentia. Porque sabia que ele não viria.
— Eu já ouvia vocês cantarem em casa. Isso é o bastante.
E ele ria. Tolo. Sem alma. E naquela noite ela não tinha dinheiro nem para o pão. Mas o pior não era isso. Nem o dinheiro. Nem as mágoas. Era o fato de que ele nunca esteve presente. Nunca.
Um dia ela achou no bolso dele um ingresso para jogo. O preço — como uma semana de compras.
— Você enlouqueceu?
— É meu dinheiro. Quero gastar — gasto. Não estou traindo, fique feliz.
Ela não ficou feliz. Chorava. Em silêncio. No canto da cozinha. Depois que ele foi embora. Porque sabia: ele não era homem. Ele era alguém que não estava pronto para assumir responsabilidade. Que fugiu da família como de dívidas.
Mas ela ficou. Ficou quando ele saiu. Ficou quando a mãe adoeceu. Quando faltou dinheiro. Quando as crianças ficaram doentes. Quando ninguém ajudou. Ela ficou.
E os filhos cresceram. Limpinhos. Inteligentes. Obedientes. Felizes.
Pelo menos por fora.
Pelo menos por enquanto.
Irina não era apenas a mais velha — era o apoio da casa, sua pequena capitã. Menina ajudante, sempre um passo à frente, mesmo sem que ninguém pedisse. Excelente em tudo: na escola, notas máximas; em casa, limpava sem reclamar, ajudava Roman, conferia as lições de Anton. Silenciosa, mas com força interior sentida até na postura, quando olhava pela janela, observando adultos passarem. Como se decidisse algo importante só para si.
Anton era o que o pai tentava ser — homem, embora tivesse apenas doze anos. Nunca reclamava, não fazia birra. Lavava a louça sem ser lembrado, guardava suas coisas, e quando precisava — podia cuidar de Roman enquanto a mãe cozinhava ou ajudava a avó. Falava pouco, mas cada palavra valia mais que a de muitos adultos.
Roman era o menor, mas já sentia gosto pelo aprendizado. Amava livros, puxava as letras, repetia sílabas, contando orgulhoso para a mãe: “Olha, eu li!” Sua risada era como um raio de luz num mundo cinzento e frio, onde cada dia começava com a contagem de quanto dinheiro sobraria até o fim do mês.
Eles eram seu sentido. Sua verdadeira vida. Sua única luz na sombra da rotina. Aqueles três filhos, vestidos com roupas velhas, mas arrumadas, com luvas e gorros herdados uns dos outros, pareciam-lhe mais bonitos que qualquer foto perfeita de família nas redes sociais. Porque eram vivos. Honestamente vivos. Reais.
No centro da vida deles estava Valentina Ivanovna — a avó, mais que parente. Era apoio







