**Texas, Final do Verão de 1879**
O sol pressionava Cekorrech como um olhar duro. A poeira se levantava sob as botas — vaqueiros, errantes, curiosos — lotando um palco de tábuas ásperas que se erguia como um altar para o que estava quebrado.

**O Leilão**
No centro, uma garota descalça se ajoelhava acorrentada. Seu nome era Isa, embora ninguém perguntasse. O que restava de seu vestido grudava como fumaça rasgada, manchado de escuro. Suas pernas tremiam.
Em seus braços, um recém-nascido choramingava contra seu peito silencioso, manchado de vermelho. Uma corrente de ferro mordia seu tornozelo direito, presa a um poste. A pele estava crua.
“Cheguem mais, cheguem mais,” chamou o leiloeiro, colete impecável, sorriso largo como o bocejo de uma cobra. “Dois por um, senhores. Jovem o suficiente para se curar — e o pequenino vai crescer seu legado.”
A multidão riu.
“Ela ainda está sangrando,” alguém zombou.
“Fresquinha como um bezerro de primavera,” o leiloeiro riu. “Não se nomeia todo dia uma criança que você não gerou. Começamos com cinquenta.”
“Setenta!” gritou uma voz. Os lances subiam como calor.
“Cento e cinquenta — duzentos!” gritou o homem com um palito de dente.
Então uma voz cortou, firme como cascalho. “Trezentos.”
Silêncio. Cabeças se viraram.
**O Comprador**
Na borda, estava um homem alto sem sorriso. Chapéu de aba larga sombreava o rosto; o maxilar rígido como armadilha. Casaco empoeirado, botas gastas. Comum — até encontrar seus olhos.
“Trezentos,” disse ele novamente, mais alto.
“Senhor, talvez tenha ouvido errado,” piscou o leiloeiro.
“Ouvi certo,” disse o homem.
“Qual é o seu plano com a mercadoria?” alguém gritou.
Ele deu um passo à frente; suas botas batiam na madeira como martelos. “Dê a ela uma cama. Deixe-a dormir. Só isso.”
“O preço da caridade?” alguém murmurou.
O homem apoiou a mão no coldre na cintura — não sacou, apenas descansou. “Alguém quer superar? Não? Então toque o sino.”
O martelo bateu. “Vendido!”
Ele subiu os degraus. Isa não olhou para cima até que sua faca raspou a corrente. Ela caiu com um clang final. Ele estendeu a mão. Ela não a pegou.
“O que você quer de mim?” perguntou ela.
“Dormir,” disse ele, voz firme. “Depois conversaremos como pessoas.”
Ela olhou por um longo instante, então se levantou. O bebê choramingou. Ele olhou para a criança, depois para ela.
“Você tem nome?”
“Isa,” disse ela finalmente.
Ele assentiu. “Jack Moro.”
Ele se voltou para a multidão que ainda assistia, como tentando entender o que acontecera. Ele não vacilou. Uma mão gentil pairou na pequena curva das costas de Isa — guiando, não pressionando. Com a corrente ainda quente nas tábuas atrás deles, ela desceu — descalça, manchada de sangue, não sozinha.O Caminho para o Rancho
Eles deixaram uma cidade que um dia precificava pessoas como gado. Ninguém os seguiu.
A estrada serpenteava por colinas baixas de cedro e rochas, silenciosa, mas não vazia. Coyotes uivavam ao anoitecer. Estrelas surgiam antes que a última elevação se abrisse para terras cercadas e longas sombras.
Jack dizia pouco. Isa segurava o bebê e examinava cada poste, cada trecho de terreno aberto. Seus pés doíam; seus joelhos ainda lembravam as tábuas. Ela não reclamava. A dor era familiar.
A Cabana
Atrás da casa principal, perto dos estábulos, havia uma cabana de um cômodo: um pequeno fogão, uma cama de solteiro, um berço remendado que Jack havia consertado naquela manhã com pregos tortos.
“Esta é sua,” disse ele, abrindo a porta.
Isa entrou como se esperasse uma armadilha. Lençóis limpos na cama. Brasas quentes no fogão. Um cobertor dobrado na beirada. Ninguém falou. Nem o bebê.
Jack aqueceu uma chaleira e colocou uma tigela de mingau na mesa ao lado do berço. “Voltarei ao amanhecer,” disse. “Você precisa descansar. Mais que isso, a criança precisa de uma mãe que não esteja observando sombras.”
Ele se virou para ir embora.
“Espere.”
A voz dela era suave, quase nunca usada. Ele parou.
Ela colocou o bebê no berço e então disse, sem se virar: “Se tentar me tocar, cortarei sua garganta enquanto dorme.”
Ele assentiu. “Justo.”
Ele saiu, fechou a porta e a deixou à noite.
A Primeira Noite
Ela se alongou longa e mais fria do que o esperado. Isa não dormiu. Alimentou a criança com o mamilo que ele deixara, o embrulhou mais firme, retirou uma pequena faca debaixo do cobertor do bebê e a escondeu sob o travesseiro. Continuava escutando passos, trancas, outra respiração — mas só o silêncio veio.
Presentes da Manhã
O amanhecer chegou como um suave murmúrio. O bebê se mexeu. Isa levantou-se imediatamente, faca na mão.
Na beira do berço, havia um quadrado de tecido branco, gasto e macio nos cantos, bordado com fios delicados — pequenos pássaros azuis ao redor da borda. Não era uma ameaça. Um presente.
Quando Jack bateu e entrou, trouxe uma mamadeira quente e um pote de purê de maçã. Ela o observou como se fosse um urso.
Ele acenou para o pano. “Minha mãe fez isso quando eu era pequeno. Para minha irmã mais nova. Ela… ela não sobreviveu aquele inverno.”
Isa piscou. “Por que me dar?”
“Porque seu filho merece mais que ferro nos tornozelos e terra no chão.”
Ele tirou do casaco um pacote macio — roupas minúsculas, remendadas mas limpas. “Voltarei ao anoitecer.”
“Por que está fazendo isso?” ela perguntou.
“Porque ninguém perguntou como você queria viver,” disse ele, em voz baixa.
“E se eu não souber?” sussurrou ela.
“Então acho que você começa com sono.”
Ele saiu. Desta vez ela o observou ir embora. A porta se fechou suavemente. Isa aproximou o bebê do peito e, finalmente, deixou os olhos se fecharem. Não completamente — mas o suficiente para que a escuridão parecesse menos cruel.







