Tudo o que eu queria era homenagear minha mãe no dia mais importante da minha vida.
Em vez disso, acabei enfrentando uma traição que quase me destruiu — minutos antes de caminhar até o altar.

Tenho 26 anos, e se alguém me dissesse que eu escreveria a história da minha vida com as mãos trêmulas, eu teria rido.
Mas o que aconteceu no meu casamento ainda me dá enjoo só de lembrar.
Ajustei o véu na cabeça, as mãos tremendo, enquanto olhava meu reflexo.
Meu coração batia como um tambor de alerta.
A suíte da noiva estava silenciosa, exceto pelo suave sussurro do vento do lado de fora.
O vestido — o último presente da minha mãe — pendia perto da janela, irradiando uma luz suave, como se tivesse uma alma própria.
Toquei a borda do corpete de seda e sorri, lembrando o dia em que ela desembrulhou aquele tecido.
Aquela lembrança está gravada em mim como uma oração.
Ela já estava tão cansada.
O câncer havia voltado com força total, e os médicos já não usavam palavras de esperança.
Mas minha mãe não chorou, nem hesitou.
Ela apenas disse: “Acho que vou ter que trabalhar mais rápido.”
Na época, eu não entendi.
Até que, alguns dias depois, encontrei sua mesa de costura coberta de tecido marfim, rendas e um pequeno saquinho de pérolas.
Ela sorriu para mim — o rosto pálido, o corpo frágil, mas o espírito inabalável.
“Estou fazendo algo que ninguém nunca poderá tirar de você”, disse, enfiando a linha na agulha com as mãos trêmulas.
“Mãe… você precisa descansar”, falei, segurando a mão dela.
“Eu descanso quando minha menina caminhar até o altar.”
Foi assim que descobri que ela estava costurando meu vestido de noiva.
Minha mãe, Ella, era tudo para mim.
Ela não era apenas minha mãe, mas minha melhor amiga, meu exemplo, minha base.
Quando eu era pequena, ela ficava acordada até tarde costurando vestidos para mim com retalhos, porque não podíamos comprar roupas prontas.
Era costureira de profissão, mas artista de coração.
Cada ponto que ela dava tinha calor, precisão e amor.
Mesmo nos dias em que mal conseguia levantar a cabeça, insistia em costurar.
Do leito do hospital, perto da janela, trabalhava silenciosa e determinada.
O vestido crescia dia após dia — camadas de seda, renda delicada, miçangas que brilhavam como orvalho da manhã.
Ela terminou o vestido três dias antes de morrer.
Lembro-me de tê-lo erguido à luz do sol, e ele cintilava como se estivesse vivo.
Segurei-o ao lado da cama dela; seus dedos finos tocaram a barra.
“Agora posso ir”, sussurrou, acariciando o tecido.
Naquela noite, ela se foi.
Depois do funeral, dobrei o vestido com cuidado, coloquei-o num saco de roupa e guardei no armário.
Não conseguia olhar para ele.
O perfume de lavanda do creme dela ainda impregnava as mangas.
Sempre que sentia o cheiro, meu peito apertava, e eu precisava sair.
Mas fiz uma promessa a mim mesma: quando me casasse — não importava quando ou com quem — usaria aquele vestido.
Não algo novo, nem comprado.
Eu jurara que aquele vestido me levaria até o altar.
Um ano depois que ela partiu, meu pai se casou novamente.
O nome dela era Cheryl.
E até hoje não entendo como meu pai, tão bondoso e fragilizado, acabou com alguém como ela.
Cheryl chegou como um vento frio — sorrisos perfeitos, saltos altos, polidez e veneno.
Parecia doce diante dos outros, mas por trás das portas era mais afiada que vidro quebrado.
“Você é meiga”, disse ela uma vez, dando um tapinha no meu braço. “Só não tem a elegância da sua mãe. Mas quem sabe um dia chegue lá.”
Eu tinha 18 anos, e não sabia como responder sem sentir culpa.
Então fiquei quieta.
Aprendi rápido que minha madrasta tinha o dom da crueldade disfarçada de “preocupação”.
Quando meu pai anunciou o noivado, sorri, mesmo com o estômago revirando.
Disse a mim mesma que queria vê-lo feliz — e, se Cheryl o fazia sorrir de novo, eu aprenderia a lidar com isso, mesmo sem confiar nela.
Com o tempo, mudei-me, fui para a faculdade e só voltava para as festas.
Meu pai e eu nos afastamos.
Cheryl, embora tolerável à distância, sempre encontrava uma maneira de se colocar entre nós.
Então conheci Luke.
Meu namorado era tudo o que Cheryl não era.
Calmo num mundo caótico, discreto, gentil.
Ele me fazia sentir segura, de um jeito que eu não sentia há anos.
Tinha uma força silenciosa, serena — e eu me apaixonei.
Ficamos juntos por cinco anos até que ele finalmente pediu minha mão.
Disse “sim” com lágrimas nos olhos.
Meu pai chorou quando contei.
Cheryl levantou os olhos do celular e disse, seca:
“Isso é… rápido, não?”
“Cinco anos”, respondi.
Ela deu um sorriso forçado. “Claro. Só quis dizer que… as coisas mudam depressa.”
Eu já sabia que discutir com ela era inútil.
Suas provocações eram sutis, calculadas — o tipo que te faz duvidar de si mesma sem perceber por quê.
Planejar o casamento tomou minha vida por meses: bolo, flores, música, convidados.
Mas nunca considerei usar outro vestido que não fosse o da minha mãe.
Ele servia perfeitamente.
Era atemporal, como se tivesse sido feito para aquele dia.
Toda vez que eu tocava o tecido, sentia que ela estava comigo.
Na semana do casamento, Cheryl decidiu, de repente, “ajudar”.
Começou a aparecer cedo, a se intrometer nas reuniões com os fornecedores, a dar opiniões não solicitadas.
Parecia estranho, mas tentei manter a paz.
“Ela tá querendo se meter”, disse Maddy uma noite enquanto montávamos as lembrancinhas.
Maddy era minha melhor amiga desde o jardim de infância — e sem filtro algum.
“É só a Cheryl sendo a Cheryl”, murmurei, exausta.
Mas um dia ela apareceu no meu ajuste de vestido, sem ser convidada, e ficou rodando em volta como um abutre.
“Parece… antigo”, comentou. “Tem certeza que não quer algo novo, mais moderno? Você pode pagar por um de verdade.”
Ri. “É sentimental. Minha mãe fez.”
Por um segundo, o rosto dela endureceu. Depois, sorriu.
“Ah, o famoso vestido outra vez.”
O tom dela me causou um arrepio, mas ignorei.
Achei que ela nunca ousaria fazer nada.
Como eu estava errada.
Na manhã do casamento, acordei nervosa.
Fiquei na casa do meu pai para estar mais perto do local da cerimônia.
Quando desci, ele estava na cozinha, fazendo café e cantarolando.
Parecia orgulhoso, emocionado.
Cheryl, claro, estava no espelho, retocando a maquiagem.
Chegamos ao local, e comecei a me arrumar com Maddy ao meu lado.
O vestido — que ela havia retirado da costureira — estava pendurado na suíte, iluminado pelo sol.
Era lindo.
Maddy o ajeitou enquanto eu tentava comer algo.
“Pronta?” perguntou.
“Na medida do possível”, respondi, sorrindo.
Então o florista ligou por causa de um erro nos botões de lapela.
Saí para resolver.
Fiquei fora uns dez minutos, no máximo.
Quando voltei, o rosto de Maddy estava branco como papel.
“Lila…” sussurrou.
Segui o olhar dela.
O vestido da minha mãe — o que ela costurou com o último fôlego — estava no chão, rasgado, cortado, manchado!
Não consegui respirar.
Caí de joelhos, as mãos tremendo.
O bordado destruído.
A seda rasgada, o corpete cortado, as pérolas espalhadas como ossinhos quebrados.
“Não… não, não, não…”
Maddy se aproximou, mas eu a afastei, agarrando o tecido arruinado.
“Meu Deus, quem faria isso?!” ela exclamou.
“São cortes de tesoura”, falei. “Não foi um acidente.”
Ela assentiu devagar. “Desculpa, Li. Saí pra ir ao banheiro quando você estava no telefone, mas—”
Levantei-me de repente e não deixei ela terminar.
Saí no corredor ainda de anágua.
Os convidados se viraram.
A música tocava distante, alheia à tempestade que se formava.
E lá estava ela.
Cheryl, perto da mesa do bufê, rindo, taça de champanhe na mão.
Senti o cheiro do perfume caro dela — rosas e arrogância — ainda no ar da minha suíte.
“Você”, rosnei.
Ela virou-se. “Lila, querida, o que houve?”
“Foi você!”, gritei. “Você destruiu o vestido da minha mãe!”
O rosto dela vacilou por um segundo antes de fingir preocupação.
“Desculpe?”
“Você cortou! Você arruinou o último presente que ela me deixou!”
Ela suspirou, como quem fala com uma criança mimada.
“Talvez se você não o tivesse deixado jogado, não teria se danificado. Relaxe, é só um vestido.”
“Não é só um vestido!”, berrei. “Ela o costurou com as mãos morrendo! Era o último presente dela!”
Os convidados pararam. Alguns filmavam.
Luke correu até mim.
Cheryl me olhava fria, com um sorrisinho.
“Talvez seja hora de parar de viver no passado. Agora você pode comprar um de verdade.”
Eu avancei, mas Maddy me segurou.
A música cessou, os murmúrios começaram, e então meu pai apareceu — o rosto pálido.
“O que está acontecendo?!” exigiu.
“Sua esposa”, cuspi. “Ela destruiu o vestido da mamãe!”
Cheryl fingiu horror. “Isso é um absurdo! Eu jamais—”
Maddy interveio. “Eu a vi saindo da suíte com uma tesoura. Ela entrou enquanto você estava fora. Disse que queria desejar boa sorte. Não pensei em nada… até a Lila mencionar os cortes.”
Tudo parou.
Meu pai olhou para ela, horrorizado. “É verdade?”
Cheryl abriu a boca, hesitou. “Eu… só queria ajudar.”
“Ajudar com o quê?!”, gritou. “Com o quê, Cheryl?!”
Pela primeira vez, a máscara dela caiu.
Ela explodiu: “Vocês tratam aquela mulher como uma santa! Estou cansada de ser a segunda! Achei que, se o vestido sumisse, ela finalmente seguiria em frente!”
O ar sumiu do salão.
A voz de meu pai baixou, firme: “Saia.”
“O quê?”
“Você ouviu. Saia! E quando eu chegar em casa, quero você fora da minha vida.”
Ela tentou argumentar, mas dois padrinhos a acompanharam até a saída.
Derrubou uma torre de champanhe no caminho antes de desaparecer.
Fiquei ali, paralisada.
“Filha”, meu pai disse baixinho, pondo a mão no meu ombro. “Sinto tanto. Nunca devia ter trazido essa mulher pra nossas vidas.”
Eu não conseguia falar.
A garganta ardia.
Então Maddy pegou meu braço. “Li, a gente consegue arrumar.”
“Está arruinado.”
Mas ela disse algo que nunca esqueci:
“Não. O amor da sua mãe não está nas costuras. Está em você. Vamos dar um jeito.”
E demos.
Com fita adesiva, alfinetes, linha, agulha e pura vontade, remendamos o vestido.
Não ficou perfeito







